A psicanalista e terapeuta sexual Fernanda Amado, após ler minha coluna do dia 8 de junho, na qual conversamos sobre o tema Viver separados, porém juntos, é possível? me trouxe a reflexão: “E os casais que dividem a mesma casa, mas não compartilham a vida nem a intimidade?
Naquela semana conversamos sobre a crença comum de duas pessoas que escolhem viver sob o mesmo teto seria a única forma de amar “verdadeiramente”. Mas e se essa escolha for feita por motivos diferentes do que chamamos de “amor verdadeiro”? Esse é um questionamento relativamente comum em meus atendimentos na clínica e na plataforma Sexo sem Dúvida.

Sim, existem casais que dividem a mesma casa, mas não compartilham a vida nem a intimidade. Essa também é uma escolha de vida. Mas será que dá certo? Quem vai nos responder é o vínculo conjugal, ou seja, a relação que é estabelecida entre as pessoas que decidem compartilhar suas vidas de forma duradoura.
Para o senso comum, o vínculo conjugal se compõe apenas de amor, respeito, confiança e e emocional. Mas saiba que o vínculo conjugal é também composto por questões práticas, econômica, financeiras, morar juntos ou não, divisão de tarefas domésticas, criação de filhos (se houver).
Vou trazer aqui a reflexão sobre o vínculo de conveniência, geralmente “mal visto” por ser baseado nas relações de interesse que acontecem entre as parcerias em uma relação conjugal. Lembro que toda e qualquer relação é baseada em interesses diversos e está tudo bem, desde que acordados.
Sendo assim, muitos casais escolhem morar juntos por razões práticas, financeiras, familiares e sociais, mas mantém suas vidas pessoais, emocionais e sexuais independentes um do outro.
Então, o cuidado não pode ser considerado uma prática amorosa? Amor pode ser afeto, amizade, carinho, simpatia, cuidado, atenção, compromisso… E, ainda, se pensarmos no amor enquanto ação, por exemplo a de proteção pela pessoa que se tem apreço, seja ela financeira ou social, não seria “amor verdadeiro”?
Há uma regra para os casais? 83j45
Não há uma única regra. Cada casal decide como viverão, desde que seja de comum acordo, sem sofrimento ou constrangimentos.
Agora, se são casais que estão em crise (ou não), que moram na mesma casa e não respeitam seus vínculos e acordos, essa é uma conversa para outro momento. Estar infeliz no relacionamento e manter comportamentos infiéis, não apenas a sexual, mas também violências e ausência de diálogo, não justificam nenhuma forma de se relacionar. Se não há consentimento nas relações não há escolha.
Sempre bom lembrar que essa dinâmica de viver separados morando juntos deve ser uma escolha pessoal e do casal. Não há uma forma “certa” ou “errada” para a vida em casal. Cada relacionamento deve ser singular, baseado no que funciona para o casal, desde que haja boa comunicação (olha ela aqui de novo!), cuidado, compreensão mútua e respeito ao que for acordado.
Por fim, é libertador e necessário entender o que afeta suas escolhas e decisões. A psicoterapia é um bom lugar para você se reencontrar!