Viralizou na internet esses tempos um vídeo que, para a nova geração de pais, pode ser associado à parentalidade gentil ou criação positiva. Nas imagens, uma criança era filmada em seu momento de birra porque a mãe negou um picolé. Aos gritos, o menino com aparência de quatro anos dizia que não gostava daquela casa, não gostava da mãe e tentava sair pela porta trancada. Ok, até aí nada de novo no front. O que para a gente pode ser uma besteira, para a criança não é.
Só que de acordo com o vídeo, o caos durou uma hora e a mãe ficou sessenta minutos sentada ao lado do filho esperando ele se acalmar. Gente, quem tem uma hora hoje em dia? Imagina se a cada birra parássemos a vida para ficar não sei quanto tempo modulando a raiva dos filhos? E mais, até que ponto essa parentalidade gentil é positiva para a criança e para os pais?

Antes de partir para o assunto, gostaria de pontuar que não concordo com a exposição de crianças na internet, muito menos quando elas estão vulneráveis emocionalmente. Não acho que filmar é a melhor forma de exemplificar uma situação, afinal birra é birra.
Eu concordo que esses novos formatos de educação, como a parentalidade gentil e a criação positiva, trouxeram novos olhares para a infância e apresentaram novas maneiras de lidar com elas. Só que nem Buda manteria a calma com uma hora de berros por conta de um picolé. Imagina para nós meras mães mortais e mortas de cansaço? Todo dia uma coisa diferente que só serve para as mães sentirem mais culpa.
Às vezes eu só quero que minha filha se arrume em um tempo hábil para não chegar atrasada na escola, nem eu no meu compromisso. Só que não dá para abaixar na altura dela todas as manhãs e falar pausadamente os motivos de não ser legal ela não querer colocar o uniforme, nem o tênis e nem sair sem comer nada do café da manhã. Às vezes é no tom bravo que as coisas funcionam.
Também não quer dizer que a gente não tente ajudar. Em um primeiro momento a gente explica, oferece afeto, afago, abraço e se todas as opções são negadas, vida que segue, já já a criança se acalma e aparece como se nada tivesse acontecido, pode apostar. E aí depois, se você quiser, puxa papo sobre o ocorrido, explica novamente os motivos e como tudo pode ser resolvido sem gritarias. Mas se não quiser também, está ótimo. Faz o que funciona para você, mas não engula o incômodo e não tenha medo da criança ou de traumatizá-la.
O filho pequeno sempre bate quando não gosta de algo? A mãe não precisa entender e sorrir ou não fazer nada. Educar com respeito não é isso. É impor limites, é dizer “não gostei da sua atitude, aqui em casa a gente não bate, nem responde dessa forma, estou aqui para te ajudar a acalmar, para ter feito isso você deve estar mal”.
É fato que não dá para ar do ponto, não dá para bater porque violência é a pior resposta que podemos dar, nós que somos os adultos, nós que temos que nos virar. Mas isso não quer dizer que vamos aceitar que o filho nos bata, nos chame de chata, nos responda de forma grosseira.
O pediatra e estudioso da infância Donald Winnicott dizia que a criança precisa sentir que o contrato não quebra quando ela sente raiva. Ou seja, a mãe não vai começar a achar que ela é um monstro, nasceu toda errada, que precisa ser contida com violência… Se proteger e ensinar que todos merecem respeito não é quebra de contrato. Educação com respeito só é realmente com respeito se a gente também se respeita.