Florianópolis enfrenta situação crítica na transmissão de dengue, uma vez que a cidade já soma 483 infecções confirmadas em pouco menos de quatro meses. Num comparativo, todo o ano de 2021, considerado o mais infeccioso da história da cidade, confirmou 195 casos da doença. Com isso, são 288 casos a mais registrados nos primeiros 110 dias de 2022. Mas, afinal, o que explica a alta nas ocorrências?

“Reunimos todas as condições necessárias para a transmissão de dengue e a epidemia atual”, revela o professor de parasitologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), José Henrique Oliveira. Para entender o atual cenário das transmissões, cabe identificar os fatores que levaram à explosão de casos confirmados.
De forma simples, é necessário uma soma de fatores que faça com que um local se sobressaia nas transmissões de doenças virais por mosquitos em relação aos demais lugares, como é o caso de Florianópolis. Na Capital, pontos como o clima e o ambiente são favoráveis, conforme explica Oliveira.
“Primeiro, é necessário que tenhamos proliferação de mosquitos. Para isso, clima e ambiente têm que favorecer. Acabamos de sair do verão, então, temos clima quente e úmido, além de abundância de locais para criação dos mosquitos. Também é necessário ter a circulação do agente patogênico, o vírus da dengue”.
No entanto, o professor enfatiza que a soma de fatores resultantes nas formas de transmissão não para por aí.
“Nesse caso, [o vírus] circula, seja em animais silvestres que nos cercam, como primatas não humanos, por exemplo, presentes nas matas, ou mesmo mosquitos infectados por transmissão vertical (de mosquito para mosquito, via ovo). Ainda é preciso ter hospedeiros humanos susceptíveis à dengue, como nós, aqui em Florianópolis”.
Localidades em risco 6cc4l
Conforme divulgado pela Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica), em 11 de abril, cerca de 73% dos bairros de Florianópolis estão com focos do mosquito Aedes aegypti. Atualmente, a Capital registra casos, principalmente, entre Centro e Norte da Ilha.
Veja os bairros de Florianópolis com mais casos da doença:
Veja os bairros de Florianópolis com mais focos da doença:
- Córrego Grande – 231 focos;
- Canasvieiras – 203 focos;
- Cachoeira do Bom Jesus – 190 focos.
Para José Henrique, estas localidades possuem algumas características que reforçam a alta contaminação. “Alta densidade demográfica e condições ecológicas favoráveis, como, por exemplo, recipientes capazes de acumular água e deixados pelos humanos, como pneus e potes de plantas. O Aedes aegypti, vetor da dengue, é especialista em proliferar nessas condições”, explica.
Sendo áreas de mata abundante, os moradores dos bairros, no entanto, não devem identificar a natureza como vilã da proliferação, uma vez que o Aedes aegypti é considerado um mosquito urbano.
“As matas podem ter um papel de funcionar como reservatório viral, já que o vírus da dengue pode circular tanto em mosquitos apenas das matas, como os do gênero Sabetes, bem como primatas não humanos. Isso, entretanto, não é o ponto principal para explicar a epidemia atual. O que explica, é o fato de termos abundância de Aedes aegypti, pois há abundância de criadouros do mosquito deixados pela população.”
Entre os criadouros deixados pelos humanos, está o acúmulo de água em quintais, varandas e piscinas, que devem ser mantidos limpos e livres de larvas de mosquitos.
“A mata em si não é um problema, pois o Aedes aegypti é um mosquito urbano. Então, na verdade, é o contrário. O mosquito prolifera no meio da cidade, no quintal da casa das pessoas. O clima de Florianópolis favorece no verão, com temperaturas altas, muitas chuvas e alta umidade. O mosquito é especialista em proliferar nessas coedições ecológicas-ambientais”.
Capital liga alerta e decreta combate ao mosquito 6m1o37
Florianópolis estipulou, por meio do decreto assinado pelo prefeito Topázio Silveira Neto na terça-feira (12), válido pelos próximos 180 dias, como e quais são as as ações de combate à dengue que vem se intensificando pela cidade.
Entre as medidas mais recentes, está a operação ‘Fim da Picada’, que visa por em ação uma força-tarefa entre Secretaria de Saúde, Segurança, Educação, Meio Ambiente, Infraestrutura, Defesa Civil e Desenvolvimento Urbano da prefeitura. As ações iniciaram na quarta-feira (13), com 34 atividades de combate no Itacorubi.
Para auxiliar no combate, a prefeitura solicitou auxílio do setor imobiliário, a fim de levar às equipes de saúde aos imóveis agenciados pelas empresas de compra, venda e aluguel de imóveis, para ações de combate ao mosquito. O setor aceitou o pedido.
“Cerca de 60% dos focos de Aedes aegypti estão nas residências. Por isso é tão importante essa mobilização massiva para sensibilizar os moradores que resistem em receber a visita dos agentes de endemias e de seguir as orientações para controlarmos a proliferação do mosquito”, lembra Priscila Valler, diretora de Vigilância em Saúde do Município.