
“Que surpresa boa tive hoje ao amanhecer e abrir o ND! Como sempre faço, vejo a capa primeiro, depois a contracapa e começo a leitura por tua coluna. Que surpresa boa ao me ver no espelho! Estou lutando muito para encontrar a felicidade. E não é fácil. Aquele sorriso, registrado pela nossa amiga Silvana Coelho (responsável pelos arquivos fotográficos de O Estado e também do DC), era o sinal de uma nova fase. Estava entrando em depressão e não sabia o motivo que estava me levando pra lá: a surdez. A imersão de quase 50 horas num curso com mais 20 alunos no início de julho escancarou tudo. Eu sabia que tinha baixa audição nos dois ouvidos, mas estava conseguindo levar, afinal as comunicações eram muito online e também sempre com poucas pessoas. Mas sem perceber estava aos poucos me afastando dos encontros com amigos e com a família. E quando ia, ficava pouco tempo. E cada vez mais, eu interagia menos.
Na verdade, não estava mais ouvindo tudo o que eles diziam. Os diálogos eram interrompidos e, algumas vezes, com respostas agressivas de minha parte. Depois, me arrependia. Como defesa, estava me afastando. Voltava mais cedo pra casa e me isolava. A surdez mexia com minha autoconfiança. Não sorria mais como antigamente, nem tinha vontade de ouvir as histórias dos outros. Tudo estava ficando chato e desinteressante. O mundo ia perdendo a graça. Até que descobri minha surdez. Chorei muito.

Mas fui atrás do aparelho auditivo e ei a ouvir de novo.E naquela manhã de sábado, na Praia de Itaguaçu, estava conversando com a pessoa mais importante da minha vida nos últimos 10 anos, depois de meus filhos. Era o momento de luz de um novo Paulinho Scarduelli. Surdo, mas feliz. E certo de que nada pode tirar o brilho e a luz que viemos acender aqui na terra. Gratidão, Cacau! Você merece muitas coisas boas, pois já fez muita coisa boa por SC e, especialmente, por Floripa, e também por mim. Beijo grande no coração e fica bem. Paulo Scarduelli”.