Segundo dados mundiais apresentados pela Unesco em 2018, estima-se que apenas 28% dos cientistas de todo o mundo são mulheres. No Brasil, as pesquisadoras representam cerca de 40%. Desde 1903, ano em que Marie Curie ganhou o Prêmio Nobel de Física, concedido a 221 pessoas até hoje, apenas 17 mulheres receberam a láurea em Física, Química ou Medicina. Relatório da Unesco de 2021 analisa a desigualdade de gênero na Ciência, na Tecnologia, na Engenharia e na Matemática.

No Brasil, a cientista e pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus foi uma das primeiras a sequenciar o genoma do SARS-COV-2, vírus causador da Covid-19, em apenas 48 horas. Dessa forma, teve papel fundamental no desenvolvimento de vacinas para a doença.
Nascida em Salvador, Jaqueline é biomédica, doutora em patologia humana e pesquisadora. Pelo feito, ela recebeu homenagens na Assembleia Legislativa da Bahia.
Em Santa Catarina, Anelise Vieira Cubas, engenheira química, pesquisadora e doutora em Química pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), integra o Programa de Pós-graduação em istração (PPGA) e Programa de Pós-graduação Ciências Ambientais (PPGCA) da Unisul, em Palhoça.
Ela trabalha com pesquisa científica desde 1997 e fez doutorado em plasma para buscar resolver problemas ambientais como a sanitização de água e alimentos. Cubas destaca a pesquisa para a construção de modelos e equipamentos sob requisitos de inovação frugal (processo de redução de custos), apontados como soluções para as comunidades de baixa renda, com restrições financeiras, tecnológicas e materiais, e que proporciona modelos de negócios íveis para que agricultores e familiares tenham mais ganhos ao longo do ano.
Um desses projetos é o de uma máquina que processa a mandioca em que a massa pode ser congelada. Esse equipamento possibilita ganhos de até 12 meses a agricultores da Acordi (Associação Comunitária Rural de Imbituba). Outro projeto com a participação Anelise desenvolvido em Corupá, no norte do Estado, é uma máquina que retira a fibra do caule da bananeira para fazer móveis e artesanatos para os bananicultores da região e pessoas que precisam.

A despolpadeira de Butiá foi elaborada com o apoio do governo britânico e da Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e é feita de peças recicladas, sendo essencialmente, um tubo de inox comprado em loja de sucata, munido de filtros com poros de diferentes tamanhos. O equipamento, segundo Cubas, ajudou a aumentar o rendimento dos agricultores.
“Dominada por homens” 5p2w4z
Anelise Cubas enxerga que a área da ciência “ainda é dominada por homens” e destaca a falta de representatividade e igualdade para as mulheres na Ciência e Tecnologia.

A pesquisadora entende que potencialidades femininas como a sensibilidade e o capricho podem colaborar nas pesquisas e cobra políticas públicas que promovam a oportunidade para mulheres na Ciência. “Tem de haver uma política pública ativa que garanta a igualdade de oportunidade de mulheres nos cargos de liderança na área da Ciência”, avalia. “Noto pela sala de aula. Não é proporcional. Não poderia ter essa desigualdade [entre homens e mulheres]. Só teríamos a ganhar”, finaliza.
Projeto desenvolvido através da nanotecnologia 3s6812
A engenheira sanitarista e ambiental Valéria Vidal de Oliveira é especialista em controle de qualidade do ar de ambientes internos e sínteses de nanomateriais formada pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Em 2012, ela participou do concurso Sinapse da Inovação, projeto que seleciona uma ideia de produto. O conceito era, a princípio, a produção de embalagens inteligentes para purificar o ar de alimentos frescos. Nesse mesmo ano, ela também abriu a empresa Nanoativa.
Através da participação em um edital da Fapesc, conseguiu apoio para financiar e desenvolver o produto utilizando a nanotecnologia. Desde 2014, Valéria conta com e e incentivo para novas investigações em parceria com a professora da UFSC Lucilene Inês Gargioni de Souza, sua sócia desde 2017.

Durante esses anos, várias mudanças foram feitas no projeto inicial, que ou a ser de embalagens plásticas até caixas e forros de parede para câmaras frias de frutas e verduras. Segundo Oliveira, os resultados foram ótimos e ajudaram as pessoas a continuarem trabalhando sem precisar de afastamento.
Luminária nanoativada w374o
O projeto definitivo veio em 2018 e foi batizado de luminária nanoativada. Faz a purificação de ar em superfícies contendo pessoas. Segundo Anelise, a mudança se deu por um motivo “mais nobre para melhorar a saúde” de pessoas e pets.
Em 2020, com a pandemia, todos os laboratórios fecharam e não havia como validar o projeto, o que ocorreu no final de 2021. O lançamento foi em maio de 2022 para ser comercializado.
A cientista explica que, além da luminária, estão em andamento outros dois projetos na empresa. Um sobre soluções tecnológicas para a cadeia produtiva de alimentos da Amazônia, sobretudo para castanha do Brasil e outro que acelera a regeneracão das células para recuperação da pele de pessoas queimadas.
As cientistas participam de um edital da Finep, que dará o resultado de quem foi selecionado em setembro. Se forem selecionadas, a validação poderá ser concluída rapidamente. Esse processo dura em média um ano, assim que iniciar.
Para ela, as mulheres têm condições de contribuir muito na área para desenvolver tecnologias, com características como atenção, resiliência, sensibilidade e paciência para atingir o resultado, mas ainda têm pouca visibilidade.
“As mulheres precisam de oportunidades porque têm capacidade técnica para mostrar. É importante mulheres apoiarem mulheres e nos cercarmos de pessoas que acreditam no nosso potencial, às vezes mais até do que nós mesmas”, avalia.
Física nuclear 71o30
A professora Débora Peres Menezes é pesquisadora da área de Física Nuclear da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física) desde 2021.

É graduada em licenciatura e bacharelado e mestre em Física pela USP (Universidade de São Paulo). Tem doutorado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e pós-doutorado pela Universidade de Coimbra, em Portugal.
A pesquisadora esteve recentemente na França nas cidades de Lyon e Caen, para colaborar com projetos de física nuclear sobre objetos compactos e cadáveres estelares.
A cientista diz “não ter a menor dúvida” que na área das STEM (sigla em inglês para science, technology, engineering and mathematics), a presença masculina é predominante nos cargos de liderança. Apesar disso, entende que com “grupos étnicos diferentes também há resultados diferentes. Isso na ciência é fundamental”, avalia.
A pesquisadora vê pequenos avanços na participação feminina desde o início da carreira e diz que apesar da resistência ser grande, a maioria das mulheres têm clareza sobre problemas no meio acadêmico, entre eles o machismo, e têm cada vez menos medo de denunciar. Para Débora, o que falta para uma sociedade mais igualitária é a iniciativa dos homens saírem da zona de conforto e poder que detêm.