“Volto após recuperação. Covid-19” era a mensagem colada às portas da barbearia Próspera, no bairro de mesmo nome, em Criciúma, no Sul de Santa Catarina. O alerta foi dado por Carlos “Barbeirinho” no dia 7 de novembro, na véspera de ser internado. Há 25 anos ele atendia de segunda a sábado, mas a ocasião o fez fechar as portas.
Em solidariedade, os clientes responderam colando outros bilhetes. Eram cartazes pedindo que ele voltasse logo, com mensagens de carinho e pedindo para ele ter fé em Deus. Mas ele não voltou. Na luta contra o vírus, José Carlos Silvestri não resistiu e morreu no dia 19 de novembro, aos 50 anos.

Um dos principais traços do barbeiro eram as balinhas, e ele sempre enchia as mãos dos clientes com elas. Principalmente as de sabor canela. “Como a barbearia não tinha bomboniére, ele mesmo dava. Mesmo quando não queriam, ele insistia” lembra a esposa Ranilde Silvestri.
“Tinha uma brincadeira que ele sempre fazia com os clientes. Ele tirava a lâmina da navalha e colocava no pescoço dos clientes”, conta a companheira. Simulando uma rendição, ele dizia: ‘vamos, confessa o que tu fez! Vamos, fala, lembra Ranilde, aos risos.

Junto ao profissionalismo, era o jeito simples e brincalhão que atraia clientes de toda a região. Moradores de municípios vizinhos, como Treze de Maio, Jaguaruna, Balneário Rincão, entre outros, viajavam até Criciúma apenas para serem atendidos por Carlos. A barbearia Próspera era também uma das poucas que estava aberta às segundas-feiras.
Comorbidade descoberta na internação 4r363
José Carlos nasceu em Orleans e se criou em Cocal do Sul. Para Criciúma, onde abriu seu estabelecimento e vivia com a família, ele só veio depois. E por um motivo que foge da compreensão dos familiares, ele fez questão de não ser hospitalizado lá.
Devido à forte queda na saturação de oxigênio, que chegou próximo a 80% – o que indica baixa presença de oxigênio no sangue – e sintomas do vírus, ele foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão. Foi quando recebeu a confirmação que estava com Covid-19 – fato que antes apenas suspeitava.
Outros familiares já tinham sido contaminados pelo vírus, que atingiu mais de 10 mil moradores de Criciúma. No entanto, todos se curaram sem grandes complicações, conta Ranilde, o que levou ele a imaginar que a recuperação dele se daria da mesma forma.
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Na internação, os médicos descobriram que ele sofria de uma fibrose pulmonar grave. O fator acabou agravando a infecção por Covid-19, e no dia 19 de novembro ele não resistiu. Carlos é um dos 123 moradores de Criciúma que morreram de Covid-19 até esta quinta-feira (26).
Além de inúmeros clientes e amigos, a falta de Barbeirinho é também sentida por quatro enteados – John, Eder, Brayan e Sharon. E a esposa Ranilde, com quem estava junto há quinze anos. Eles tinham oficializado a união há oito meses, pouco antes do início da pandemia.
“Os amigos diziam, brincando, que se asse mais uma semana e iniciasse a pandemia, ele teria se livrado de casar, mas ele respondia que se casaria mais 50 vezes se fosse preciso” lembra.