Na tarde desta terça-feira (16) os três hospitais que atendem casos de Covid-19 em Blumenau, no Vale do Itajaí, informaram que estão se preparando para selecionar os pacientes que terão prioridade de o aos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

O anúncio foi feito pelos hospitais Santa Catarina, Santa Isabel e Santo Antônio, durante coletiva de imprensa. A adoção do protocolo de triagem leva em consideração o aumento expressivo das demandas por leitos de enfermaria e UTI, além da escassez de recursos para tratamento de pacientes com coronavírus.
Segundo as unidades, todos os pacientes serão atendidos, mas os insumos para tratamento da Covid-19 como oxigênio, ventilação mecânica e medicamentos serão priorizados aos pacientes com maiores chances de sobrevivência e expectativas de vida.
A escolha será feita de acordo com Recomendações da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), Abramed (Associação Brasileira de Medicina de Emergência), SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e AN (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) de alocação de recursos em esgotamento durante a pandemia por Covid-19.
Por enquanto, de acordo com os hospitais, o protocolo está em fase de testes. Atualmente, a fila por leitos de UTI segue o critério de gravidade. O procedimento só deve ser colocado em prática após a publicação de um decreto estadual ou com a falta de recursos.
Em algumas unidades já há falta de medicamentos específicos, mas, até o momento, os médicos estão conseguindo substituir os remédios por outros que têm efeito semelhante.
A reportagem do ND+ entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde, mas até o momento não obteve retorno.
Dilema Ético 4d394o
A adoção do protocolo também serve para proteger os profissionais da linha de frente de problemas de saúde mental, retirando a responsabilidade de médicos tomarem decisões emocionalmente exaustivas. “É doloroso fazer essa escolha. É um dilema ético”, disse o Médico Intervencionista, Giovanni Cesar Stolf.
Critérios 471e2z
De acordo com o protocolo, a decisão sobre a ocupação dos leitos de UTI deve ser tomada por uma comissão constituída por pelo menos três profissionais experientes (dois médicos e um profissional da equipe multidisciplinar) e, preferencialmente, também por um bioeticista e um representante da comunidade.
Além disso, o protocolo estabelece vários critérios que precisam ser considerados para a tomada de decisão:
- Identificar a presença por parte do paciente de Diretivas Antecipadas de Vontade ou expressões de desejos prévios de não receber tratamento em UTI ou de ser submetido à ventilação mecânica invasiva. Isto pode ser feito com a ajuda do médico assistente e familiares. Estes pacientes deverão ter seus desejos respeitados e não deverão ser triados.
- Manter a estabilização clínica enquanto os dados de triagem necessários sejam colhidos – idealmente os dados devem estar disponíveis em um período de 90 minutos.
- Calcular a pontuação do paciente conforme o SOFA (indicador que calcula o grau de gravidade das disfunções orgânicas apresentadas por um paciente), presença de comorbidades que sugiram uma probabilidade maior de sobrevida inferior a um ano (preferencialmente via SPICT: presença de pelo menos dois critérios) e ECOG.
- Alocar os leitos de UTI e/ou ventiladores mecânicos aos pacientes com menores pontuações.
- Utilizar a pontuação total do SOFA como primeiro critério desempate. Persistindo o empate na pontuação entre pacientes a equipe de triagem deve ser acionada de forma a fazer a alocação de recursos baseado em julgamento clínico.
- Comunicar de maneira empática a pacientes e familiares sobre o processo de triagem, informá-los da pontuação atual do paciente e acolher as necessidades de informação e as necessidades emocionais e espirituais sempre que possível.
- Fazer registro apropriado da pontuação do paciente em prontuário. 8. Manter pacientes que não foram priorizados na lista de triagem e no aguardo da disponibilidade de leitos de UTI ou ventiladores mecânicos. Reavaliar esses pacientes regularmente, mantendo cálculos atualizados. Pacientes poderão solicitar exclusão da triagem a qualquer momento. 9. Reavaliação regular dos pacientes que foram alocados leitos de UTI ou ventiladores mecânicos; evitar a distanásia (morte lenta e com grande sofrimento).
Abertura de novos leitos 19572t
Os hospitais também reiteraram a dificuldade em abrir leitos de UTIs. Há falta de profissionais capacitados para o atendimento, bem como equipamentos e insumos.
“É melhor termos 50 leitos com profissionais e insumos suficientes para todos, do que 80 leitos sem a quantidade ideal de médicos e recursos”, explicou o diretor técnico do Hospital Santa Isabel, Marcos Sandrini de Toni.
Pedido de conscientização 6k2i5h
Ainda durante a coletiva desta segunda-feira (16) os hospitais pediram à população que sigam as medidas de isolamento social e monitoramento. “Chegamos em um ponto crítico, que nos leva a tomar decisões difíceis para o tratamento da Covid-19”, dizia uma nota emitida pelas unidades.