Você já ouviu falar em pancs? A sigla para plantas alimentícias não convencionais vem ganhando força como forma de obter nutrientes necessários e diversificar o consumo de plantas, além do tradicional circuito de vegetais.
A nutricionista da Epagri, Cristina Callegari, apresenta algumas plantas que podem ser facilmente cultivadas, ou até mesmo encontradas em jardins nas cidades, e rendem alimentos saudáveis e de uso medicinal, em alguns casos.

As pancs não fazem parte do cotidiano alimentar da população, mas são usadas tradicionalmente em determinadas regiões ou culturas.
Segundo a extensionista da Epagri, Cristina Callegari, o termo “não convencionais” significa que não são produzidas e comercializadas em grande escala, fazendo com que seu cultivo e uso possam cair no esquecimento.
“Seu consumo tem diminuído em áreas rurais e urbanas e entre todas as classes sociais, resultado da globalização, da urbanização e do crescente uso de alimentos industrializados”, alerta Callegari.
A nutricionista destaca que o uso dessas plantas na alimentação é amparado pelo saber popular e pesquisas científicas, porém é necessário saber identificar corretamente os vegetais, conhecer suas partes comestíveis e as formas de preparo indicadas.
Inclua pancs na sua rotina 1a2e6e
Vale ressaltar que, antes de serem consumidas, as plantas devem ser lavadas em água limpa e, quando não cozinhadas, devem ser higienizadas como as demais saladas.
Uma opção para higienização é preparar uma solução com 2 colheres de sopa de vinagre para 1 litro de água filtrada, deixar de molho por 30 minutos e lavar em água corrente, pois o vinagre mata as larvas vivas, mas não faz com que se soltem das folhas.
A recomendação do Ministério da Saúde para higienização é deixar de molho por 15 a 20 minutos em uma solução com 1 colher de sopa de hipoclorito de sódio (água sanitária com registro e indicação no rótulo para uso em alimentos) para 1 litro de água. Após o molho, lavar em água corrente.
Ora Pro Nóbis 273z53
Também conhecida como “carne vegetal”, a Ora Pro Nóbis é uma planta perene, que pode crescer sem a presença de anteparo com porte arbustivo que pode chegar a 4 metros de altura, com folhas suculentas lanceoladas.

Como cultivar
Por ser uma planta rústica, sua propagação é muito facilitada e pode ser feita via estaca com aproximadamente 30cm com ou sem folhas. Para produção das mudas, deve ser utilizado material proveniente da região intermediária do caule, localizada entre as partes mais tenras e as partes mais lenhosas da haste.
Logo após o corte, as estacas devem ser colocadas num leito, para que haja enraizamento. Esse leito poderá ser constituído de uma parte de terra de subsolo (barranco) e uma parte de esterco curtido. As estacas devem ser enterradas até um terço do seu comprimento.
O transplante deverá ser feito de 30 a 40 dias após as estacas enraizarem. Também pode ser feita a propagação via semente em sementeiras com substrato e sempre manter o solo úmido, mas sem encharcar.
O espaçamento no caso da produção de folhas deve ser de 1,0 a 1,3m entre fileiras e 0,4 a 0,6m entre plantas.
No manejo da cultura, para manter a planta bem conduzida e com maior produção de folhas, é recomendada uma poda de três em três meses, deixando os ramos com o comprimento de 1,2 a 1,5m.
Quando for necessário o rebaixamento da parte aérea, este poderá ser realizado a 60cm de altura em relação ao solo, retirando-se também todos os ramos doentes ou secos. A produtividade varia de 2,5 mil a 5 mil kg/ha.
Fortalece o sistema imunológico
Seu nome vem do latim, ora pro nóbis, que significa “rogai por nós”, por ser uma planta muito nutritiva. As folhas fortalecem o sistema imunológico e possuem proteínas de alta digestibilidade e valor biológico. Contêm cerca de 25% até 35% de proteína, incluindo aminoácidos essenciais (aqueles que precisamos consumir pois nosso organismo não produz).
Também possui grandes quantidades de vitaminas A, B e C, além de potássio, cálcio, ferro, lisina, magnésio, zinco, fósforo, fibras e substâncias mucilaginosas.
São usadas ainda como corante verde para massas. Os níveis de proteína, lisina, cálcio, fósforo e magnésio são mais elevados do que no repolho, alface e espinafre. Cem gramas de frutos atendem cerca de 13% das fibras totais recomendadas diariamente. Os frutos maduros contêm vitamina A e quando imaturos são fonte de vitamina C.
Como usar
Partes comestíveis: folhas, frutos, flores e brotos.
As folhas e as flores jovens sem espinhos podem ser consumidas de diversas formas, em saladas cruas, refogadas, cozidas, em sopas, tortas, omelete, polenta e até mesmo no arroz com feijão.

Uma boa alternativa é triturar as folhas com água no liquidificador e juntar à massa do pão ou outras massas, conferindo ao produto final uma melhor composição nutricional e uma atraente cor verde.
As folhas podem substituir a clara de ovo em receitas, triturando 10 folhas com meia xícara de água.
Os frutos podem ser consumidos crus, em geleias, xaropes, sucos, compotas, mousses e licores. Podem ser fermentados e conservados com açúcar para a elaboração de bebidas.
Os brotos são utilizados como aspargos.
Almeirão-Roxo 4hv69
Nativo da América do Norte, e encontrado em todas as regiões do Brasil, o Almeirão-Roxo é uma planta cultivada como hortaliça. Suas folhas são em forma de lança, lobadas ou repicadas, de cor verde e algumas variedades com nervuras roxas.

Como cultivar
A propagação é exclusivamente por sementes. Planta típica de lavouras, é rústica e pouco exigente no seu cultivo.
Esses almeirões não precisam de cuidados como as alfaces e, uma vez plantados, não precisam mais ser semeados. Adapta-se a diferentes condições climáticas, mas prefere a primavera e a o calor do verão.
As folhas são muito nutritivas, ricas em minerais, especialmente potássio, cálcio, fósforo, ferro e também vitaminas A, C e do complexo B.
Elas também apresentam boa fonte de proteína e fibras, com teores de 18% e 30% em base seca, respectivamente.
Como usar
As folhas novas do almeirão-roxo são mais suaves e saborosas. Podem ser consumidas cruas e usadas principalmente em saladas mistas, cozidas e refogadas.

Seu sabor acompanha bem pratos como massas e polenta, mas também são preparadas com feijão e arroz, como recheio de bolinhos, pizzas, tortas, pães e ingrediente de farofas.
Recomenda-se picar bem fininho como a couve. Embora seja popularmente chamado de almeirão, trata-se de uma alface crioula e, por isso, seu amargor é mais suave em relação às variedades de almeirões comerciais mais conhecidas.
Azedinha 55j1q
Planta herbácea ocasionalmente cultivada em hortas domésticas no Sul e Sudeste do Brasil. A Azedinha pode atingir cerca de 20 cm de altura, formando touceiras com dezenas de indivíduos.
Suas folhas são simples, de formato lanceoladas ao arredondado. Possui inflorescência com panículas longas que atingem até 50cm de comprimento, de cor avermelhada e flores pequenas.

Como cultivar
O plantio pode ser feito durante o ano todo com clima ameno e que tenha boa umidade e solo bem drenado, não compactado e bom teor de matéria orgânica.
A propagação é feita com mudas extraídas das touceiras das plantas mais desenvolvidas e plantadas no local desejado com espaçamento de 20cm a 25cm entre as plantas.
Devem ser irrigadas pelo menos 2 vezes por semana e o ideal, em períodos secos, é irrigá-las três vezes por semana. Após 50 a 60 dias do plantio, as folhas com mais de 10 cm já podem ser colhidas para o consumo.
Protege o organismo
A Azedinha é rica em minerais como o ferro, magnésio e potássio, vitaminas A e C. Apresenta característica antioxidante que protege o organismo. É fonte de proantocianidinas, com potenciais ações antioxidantes e antivirais para herpes simples.
Como usar

As folhas são comestíveis, podendo ser consumidas cruas, cozidas em sopas e molhos ou utilizadas para fazer sucos com sabor refrescante (pessoas com problemas renais crônicos e graves devem evitar ou beber com moderação).
O nome “azedinha” vem de seu sabor levemente ácido que pode substituir o limão nos temperos para salada. Por isso, é popularmente chamada também de “salada pronta”.
Aroeira 152266
Nativa brasileira e de ocorrência natural em Santa Catarina, a Aroeira é uma espécie arbórea que apresenta tamanhos de 5m a 15m de altura. Suas folhas são lisas com cores verdes de vários tons.
É amplamente cultivada na arborização urbana de muitas cidades do Sul e Sudeste do Brasil.

Como cultivar
O plantio das sementes (propagação é exclusivamente por sementes) deve ser feito em sacos de aproximadamente 7cm x 17cm, utilizando-se solos de textura arenoargilosa ou tubinhos de plástico, com uma mistura de solo e composto orgânico na proporção de 1:1.
Após a germinação, com cerca de 120 dias as mudas já poderão ser transplantadas para o local definitivo. O solo do plantio deve ter boa drenagem e sol pleno. Embora seja uma planta rústica a correção do solo com adubos melhora muito o seu desenvolvimento.
A adubação pode ser feita nos berços utilizando composto orgânico. Na Grande Florianópolis, os pequenos frutos encontram-se maduros para a colheita a partir do final do outono, sendo mais expressivos no início do inverno.
Cascas e folhas como medicamentos
A aroeira é uma árvore muito popular em Florianópolis e em todo o litoral de Santa Catarina e seu fruto seco pode ser usado na culinária.
No Brasil seu consumo como condimento é pouco conhecido e frequentemente é importada e vendida a preços exorbitantes apesar de ser abundante na maioria das nossas cidades.
A casca da árvore e as folhas são consideradas na medicina popular como medicamento para tratamento de artrite, febres, ferimentos e reumatismos.
Existem relatos de usos etnofarmacológicos com ação anti-inflamatória, antiespasmódica, tônica, vulnerária (tratamento de feridas, cortes e úlceras), diurética, antileucorreica, emenagoga (aumenta fluxo menstrual), adstringente, cicatrizante, balsâmica e bactericida.

Como usar
Os frutos secos de sabor adocicado e aromático podem ser utilizados como condimento de ensopados, carnes, peixes e até doces como caldas, bombons e geleias, conferindo sabor, aroma e aspecto visual chamativo.
Use com parcimônia como qualquer condimento e não esqueça de secar os frutos antes de utilizar.
Taioba 6v43h
Nativa do Brasil, também conhecida como Taiá ou Mangará, a Taioba pode chegar até 1,7 m de altura. Atenção especial para a similaridade com a planta de Inhame (esta não comestível). A diferença da folha de Taioba é o vértice formado na inserção do pecíolo, que é aberto.

Como cultivar
A planta deve ser plantada em locais de pouca luz solar ou de sombra parcial. A Taioba tolera encharcamento, porém não tolera solos compactados. Até a planta se tornar adulta, deve-se fazer a irrigação do local, pois as plantas jovens não toleram a seca, somente as plantas adultas.
A propagação é feita via rebentos laterais ou pedaços do cormo. As covas para o plantio devem ter de 6 a 10cm de profundidade e 1m a 1,3m entre plantas, ou de 1m entre linhas e 40 a 50cm entre plantas.
O solo deve ser fértil e rico em matéria orgânica. Época de colheita: 60 a 75 dias após o plantio, já os cormos devem ser colhidos entre 7 e 12 meses após o plantio.
Uso medicinal
Os rizomas são ricos em energia e fontes de carotenoides. A folha rica em fibras, em minerais como potássio, fósforo, ferro, zinco, cálcio, magnésio e Vitaminas B2, B6 e C.
Possui uso medicinal e pode ser utilizada contra febre, câncer, pólipo, inflamações e tumores, dentre outros fins fitoterápicos.
Como usar
Podem ser consumidos os rizomas, talos e folhas de preferência de plantas já cultivadas para o consumo na alimentação, pois algumas variedades são tóxicas.
Os rizomas tuberosos podem ser consumidos cozidos e moídos, em purês, cozidos com arroz, adicionados a picadinhos de carnes, sopas ou no preparo de massa para bolinhos fritos.

As folhas e o talo também devem ser cozidos, pois crus apresentam o efeito tóxico do oxalato de cálcio que inclui irritação das mucosas na boca e na garganta, causando coceira e sensação de asfixia pelo efeito físico urticante dos cristais de oxalato de cálcio.
As folhas devem ser colhidas sempre novas, pois as mais velhas ou sob estresse hídrico por falta d’água concentram cristais de oxalato de cálcio.
É necessário retirar as nervuras das folhas mais velhas ou de variedades com maiores teores de oxalato de cálcio. A variedade com talo roxo também exige maior cozimento.
O que são 5345i
- Espécies comestíveis silvestres ou exóticas, espontâneas ou cultivadas, presentes em todos os biomas brasileiros.
- Muitas são chamadas de daninhas, inços ou mato, pois suas utilidades culinárias e potencialidades nutricionais são desconhecidas.
- São, também, partes de hortaliças e frutas ricas em nutrientes e comumente não utilizadas, como folhas de cenoura, batata doce ou beterraba e o umbigo (coração) da bananeira.
- Por mudanças no comportamento e industrialização, deixaram de fazer parte da cadeia produtiva e da alimentação tradicional.
Outras pancs: 1y5q3t
- Picão branco
- Picão preto
- Erva baleeira
- Tanchagem
- Espinafre silvestre
- Almeirão silvestre
- Caruru
- Azedinha
- Bredo
- Bertalha
- Capuchinha
- Serralha
- Trapoeraba
- Taiá
- Cará do ar
- Cará da terra
- Beldroega
- Chaya
- Hibisco
- Perila
- Ora por nobis
- Moringa
- Tupinambor
- Urtiga
- Dente de leão
- Açafrão da terra
- Alecrim
- Manjerona