Nariz “entupido”, olhos inchados, garganta com a sensação de ardência, músculos do rosto endurecidos e corpo pesado. O frio, apesar de todas as suas belezas e experiências quentinhas, também atinge 20% da população brasileira, que sofre com quadros de rinite e sinusite.
Além disso, a estação intensifica um combo de doenças virais, por meio dos ambientes fechados ou com pouca circulação de ar.

Apesar dos quadros alérgicos e de infecções que podem aumentar durante o inverno, há soluções mais simples que podem ajudar os acometidos a encararem a época mais fria do ano com uma redução nos incômodos.
Sistema imunológico na mira 70336j
Segundo o médico pneumologista Ricardo Ximenes Malinverni, da Clínica Torax, o frio não tem a capacidade de reduzir a imunidade das pessoas. No entanto, há uma maior circulação de vírus respiratórios durante o inverno, como os de resfriados e gripes. Por isso, as pessoas podem apresentar sintomas leves, como dor de garganta, coriza, tosse e um mal-estar sutil.
No caso da gripe, vale ficar mais atento, pois pode causar sintomas mais importantes do que o resfriado, tais como febre alta, dores no corpo, tosse, coriza, dor de garganta e chance de evolução para doenças graves, levando inclusive à internação hospitalar.
Para os mais assustados, vale ressaltar que a maioria das doenças virais não possuem tratamento específico, devendo ser tratadas apenas com repouso, hidratação e medicações como analgésicos e antitérmicos, como explica Malinverni.
Quanto aos públicos mais sensíveis às doenças, destacam-se os ‘extremos de idade’, como explica o pneumologista.
“Bebês e idosos são mais propensos a desenvolverem quadros mais graves, enquanto a grande maioria das pessoas apresenta quadros leves, com resolução espontânea. Já pessoas portadoras de doenças respiratórias crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, podem sofrer com o agravamento, através de crises de chiado e falta de ar”, anotou.
Para preparar o nosso organismo para as temporadas mais frias do ano, o especialistas dá dicas que podem evitar situações desagradáveis. “Manter boa alimentação e hidratação, evitar ambientes fechados com aglomeração de pessoas, higiene das mãos com álcool e o uso de máscaras”.
Com relação à Covid-19, o médico faz um destaque. “Não esquecer que entre as doenças virais, tão comuns todos os anos, há atualmente a circulação da Covid-19 e, portanto, deve-se ter cuidado redobrado para que não tenhamos um novo pico de incidência da doença no inverno”.
Nariz, ouvido e garganta 4x3h2o
De acordo com a médica Fernanda Fiorese Philippi, otorrinolaringologista do Hospital Baía Sul, em Florianópolis, os problemas respiratórios e as dores de garganta apresentam maior incidência na época de frio.
“Sem dúvida. Os problemas respiratórios como rinites, rinossinusites e bronquites são mais comuns nas épocas de frio. Além disso, baixas temperaturas interferem no funcionamento normal do nariz. Existem cílios microscópicos que recobrem a mucosa nasal e, através de seu batimento, a drenagem do muco nasal produzido diariamente ocorre de maneira adequada.”
Ela ainda ressalta que temperaturas muito baixas reduzem o batimento dos cílios, levando a acúmulo de secreção dentro do nariz, trazendo sintomas ao paciente.

Para os que sofrem com as crises de rinite e todas as irritações que o quadro traz, a médica explica como a alergia age no corpo humano.
“A rinite alérgica é uma condição clínica que tem como sintomas principais: nariz obstruído, coriza clara, espirros e coceira no nariz e olhos. É uma doença com mecanismos alérgicos, tendo como desencadeantes principais os ácaros da poeira doméstica, pólen, barata, epitélio de animais”.
“Com o inverno, o paciente exposto ao ar frio e seco poderá apresentar mais sintomas de congestão nasal e coriza. Isso se deve a mecanismos neurogênicos. O nariz possui dentro de sua mucosa vasos sanguíneos e nervos que respondem a estes estímulos de ar frio e seco inspirado com piora destes sintomas”.
A médica respondeu curiosidades sobre os quadros de alergia e irritações mais comuns no inverno: 504d66
ND+: Além da rinite, a sinusite também é comum no inverno? Como ela ocorre e como melhorar o quadro?
Dra. Fernanda: A sinusite bacteriana é comum no inverno e costuma ser uma complicação de um resfriado. Um resfriado é um quadro causado por vírus (Rhinovirus, Adenovirus), que tem uma duração de 5-7 dias e costuma se resolver de maneira espontânea.
Num pequeno percentual dos pacientes (próximo de 5%), este resfriado pode evoluir para uma rinossinusite bacteriana (com sintomas de dor de cabeça, tosse, congestão nasal e secreção nasal amarelada ou esverdeada). Nestes casos, poderá ser necessário avaliação com um médico e tratamentos específicos inclusive com o uso de antibióticos.
ND+: Na internet, circula a história de que bebidas e alimentos gelados melhoram a condição de garganta inflamada/doída. É verdade? Como tratar uma garganta inflamada de forma correta?
Dra. Fernanda: A temperatura baixa (frio) pode reduzir a sensibilidade à dor, mas não trata efetivamente uma inflamação de garganta. Uma pessoa com a garganta inflamada deve ser avaliada por um médico para verificar presença de placas bacteriana ou abscessos que necessitem de tratamento específico com antibiótico ou anti-inflamatórios.
ND+: Pessoas que já aram por retirada de amígdala possuem mais chances de ter problemas de garganta, como infecções? Pegar frio pode ser mais prejudicial para esse grupo?
Dra. Fernanda: Não existe maior probabilidade de mais infecções após retirada da amígdala, nem mesmo redução de imunidade após retirar a amígdala.
ND: Ocorrências de dores de ouvido podem aumentar na época mais fria do ano?
Dra. Fernanda: Normalmente as otites médias (inflamações de ouvido) acontecem como complicações de um quadro nasal (resfriado ou uma sinusite), em geral aparecem de 7-14 dias após o início deste quadro nasal, quando o catarro do nariz acaba entrando para dentro do ouvido através da tuba auditiva, que é um canal que comunica o nariz e ouvido.
Como as gripes e resfriados são mais comuns no inverno, naturalmente as otites também ocorrerão mais nesta época do ano.
ND: Há alguma estimativa, em números, de pessoas acometidas com quadro de problemas de rinite/sinusite no Brasil? Esse número cresce durante o inverno?
Dra. Fernanda: A prevalência da rinite alérgica na população varia em torno de 20%. No inverno, a pessoa permanece mais tempo dentro de casa e pode ficar mais exposta aos ácaros da poeira domiciliar, que são os alérgenos que mais comumente desencadeiam as crises de rinite alérgica. Além disso, o ar seco e frio do inverno também intensifica os sintomas de congestão nasal. Portanto é comum recebermos pacientes com mais queixas de rinite alérgica durante o frio.
Por fim, listamos alguns dos cuidados reados pelos médicos, para encarar a estação mais fria do ano com maior saúde e conforto. Confira:
- Hidratação;
- Lavar o nariz com soro fisiológico;
- Lavar bem as mãos, evitando a transmissão de outros vírus respiratórios;
- Dormir uma média de 7-8 horas por noite;
- Manter a casa, especialmente os dormitórios, bem ventilados, ensolarados e limpos;
- Realizar atividades físicas;
- Procurar um médico para tratar a rinite alérgica, deixando-a controlada, especialmente durante o inverno.