O anseio por justiça das famílias e da comunidade de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, foi cumprido na noite desta quinta-feira (10) após a condenação do autor da chacina na creche Pró-Infância Aquarela, em maio de 2021.

Foram mais de dois anos de espera pelo julgamento que aconteceu nesta quarta e quinta-feira (09 e 10) em Pinhalzinho. A sentença foi lida pelo juiz da Comarca Única de Pinhalzinho, Caio Lemgruber Taborda.
O jovem, na época com 18 anos, invadiu a creche às 9h50 de 4 de maio de 2021, com a intenção de matar o maior número de pessoas. Armado com uma adaga, o jovem, até então sem histórico criminal, dirigiu-se até o local e atacou bebês, professoras e demais funcionárias da creche que atende alunos de 6 meses a 2 anos.
Três crianças, uma professora e uma funcionária morreram no massacre. O caso teve repercussão internacional. A Polícia Civil revelou, na época da chacina, que o autor dirigiu-se de bicicleta à creche. Ao entrar no local, começou por atacar uma professora de 30 anos que, embora ferida, correu para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola, na tentativa de alertar sobre o perigo.
Ele atacou então as crianças que estavam na sala e a funcionária. Duas meninas de menos de dois anos e a professora que sofreu o ataque inicial morreram no local. Outra criança e a funcionária morreram depois no hospital.
O autor foi preso no local e levado em estado grave a um hospital da cidade vizinha de Pinhalzinho, após tentar cometer suicídio desferindo golpes da espada contra si.
O delegado Jerônimo Marçal Ferreira, responsável pelo caso, informou que o autor confessou o crime. Ferreira ainda disse que a professora e a agente de educação foram heroínas ao impedir que o jovem fosse para outras salas, conseguindo com êxito, mesmo que feridas, evitar o pior.
“Ele tentou entrar em todas as salas e não conseguiu. Aquelas mulheres conseguiram evitar que um mal maior acontecesse, foram muito valentes”, disse o delegado na época da chacina.
A secretária de Educação, Gisela Hermann, foi até a escola assim que recebeu a informação sobre o crime e descreveu o que viu. “Uma cena de terror. Consegui entrar na escola. Tinha um cara deitado no chão, mas ainda vivo, uma professora morta, uma criança morta também. A sala estava fechada, não deixaram a gente entrar”, contou.
Uma das vizinhas da escola, resgatou uma das crianças, um menino. Ao ouvir a confusão, ela entrou na escola enquanto o agressor ainda estava no local, retirou a criança, entrou em um carro e a levou para o hospital. “Nunca esquecerei o olhar dessa criança para mim, como uma forma de pedir socorro”, disse. O bebê, que tinha 1 ano e 8 meses, precisou ar por uma cirurgia, mas teve alta poucos dias depois.
Prisão, investigação e denúncia 5w3i46
Durante a investigação, que contou até com o apoio da Embaixada dos Estados Unidos, mais de 20 pessoas foram ouvidas, tendo o próprio autor prestado depoimento no dia 10 de maio, enquanto ainda estava internado, sob custódia policial, no Hospital Regional do Oeste, em Chapecó.
A polícia também apreendeu aparelhos eletrônicos e dispositivos pertencentes ao jovem. Ele recebeu alta no dia 12 de maio e foi levado direto para a prisão, já com o uniforme penitenciário de cor laranja e algemas.
No dia 14 de maio, os delegados realizaram uma coletiva de imprensa após o fim do inquérito, detalhando, entre outras coisas, que o autor da chacina teria escolhido a creche pela fragilidade das vítimas, que tinha plena consciência do que fez e que foi um crime premeditado durante 10 meses.
O delegado Ferreira também disse que ele tinha dificuldades de relacionamento em um nível muito acima do normal.
“Nos últimos tempos, ele cada vez mais foi se isolando no mundo” e que o jovem “tinha o a muito conteúdo inapropriado e contato com pessoas que pensavam como ele. Começou a alimentar esse ódio a ponto de querer descarregar em alguém. Não era alguém específico, era um ódio generalizado”.
Os relatórios dos dados e das informações encontradas nos aparelhos eletrônicos do autor demonstram que, durante o período em que planejou o ataque, ele participou de fóruns de discussão na internet sobre crimes violentos e pesquisou serial killers.
No dia 21 de maio, o Ministério Público de Santa Catarina denunciou o rapaz por cinco homicídios qualificados. Ele responde por 14 tentativas de homicídio, contra outros funcionários e crianças que estavam na creche no dia do ataque.

Exame de insanidade mental foi negado 6j3u1l
A defesa do acusado pediu exame de insanidade mental, mas a Justiça negou três pedidos nos dias 25 de maio, 23 de junho e 7 de julho de 2021.
No dia 5 de agosto, durante uma audiência online, o juiz decidiu ouvir o jovem presencialmente. No dia 24 do mesmo mês, durante a oitiva do acusado, o advogado de defesa apresentou um laudo particular e o juiz deferiu o pedido para a realização do exame de insanidade mental, o qual foi realizado pela Polícia Científica de Blumenau.
O laudo foi concluído no dia 19 de outubro de 2021 e o juiz solicitou mais detalhes ao perito. A partir disso, o juiz decidiu no dia 2 de fevereiro de 2022 que a questão da insanidade mental será definida no júri.
No dia 7 de fevereiro a defesa questionou em primeira instância a decisão e pediu um novo exame de insanidade mental. O pedido foi negado. Em 1º de maio a defesa entrou com novo recurso pedindo um novo laudo, a Justiça negou a solicitação no dia 28 de junho.
No dia 11 de outubro, o juiz decidiu que o caso iria para juro popular no dia 9 de agosto.