O crime organizado avança silenciosamente no Norte da Ilha, liquidando rivais à bala, disputando pontos de drogas, afugentando o comércio em geral e assustando turistas que procuram Florianópolis em busca de sossego e tranquilidade. No dia 1º de janeiro, a turista Daniela Scotto de Oliveira Soares, 38, foi assassinada na localidade de Papaquara, reduto da facção criminosa PCC (Primeiro Comanda da Capital).
Apesar da situação caótica e da sensação de insegurança, o presidente da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), Sander de Mira, disse que não existe uma estatística para medir o prejuízo, mas afirmou que indiretamente é notório o desinteresse de turistas que não se sentem seguros na cidade que optaram ar as férias.

Em Ingleses, algumas imobiliárias da região não estão mais acomodando visitantes na rua Rute Pereira, próximo à comunidade do Arvoredo, mais conhecida por Favela do Siri, onde a facção criminosa paulista PCC está em pé de guerra com o PGC (Primeiro Grupo Catarinense). O confronto entre as duas facções teve um saldo de quatro assassinatos neste final de semana. Um dos homicídios ocorreu no centinho dos Ingleses, levando pânico aos moradores e turistas.
Para atenuar a violência e tentar prender os líderes das facções, o comando do 21º BPM montou uma barreira no o ao Arvoredo. Carros e motocicletas considerados suspeitos são parados e revistados. A blitz foi montada no sábado (14), após o PCC expulsar vários rivais. O proprietário do minimercado Siri, ex-presidiário, foi ameaçado por integrantes da facção paulista, que chutaram as portas de vidro do comércio. O dono fugiu e sequer arrumou o que ficou danificado.
Na tarde desta terça-feira (17), foram apreendidas drogas na barreira montada, entre elas 4,816 kg de maconha, oito buchas grandes de crack, 271 pedras de crack e 131 buchas de cocaína.

Os criminosos ainda não promoveram o saque das mercadorias porque a barreira policial está montada quase em frente ao comércio, na rua Rute Pereira. Uma das moradoras do balneário, Sandra de Carvalho, 52, que trocou Campinas (SP) pelo Norte da Ilha, contou que nos últimos dias tem ocorrido intenso tiroteio na comunidade. Sandra disse que os estampidos dos tiros são ouvidos da casa onde mora. O filho Gabriel e a nora Fernanda, que vieram visitá-la no sábado (14), estão assustados. “São muitos tiros, parece até o Rio de Janeiro”, comentou Gabriel.
O tenente da PM Fabrício Neves Murer, que comanda a barreira policial, dá ordem expressa para os policiais revistarem carros, motocicletas e pessoas suspeitas. Desde o começo do policiamento ostensivo reforçado, os soldados apreenderam apenas drogas. Não houve apreensão de armas, nem a prisão dos alvos. “Inicialmente estamos ganhando a confiança dos moradores” ressaltou Murer.
O oficial contou que além da barreira, grupos de elite da Polícia Militar fazem incursões diariamente na favela em horários determinados, na tentativa de encontrar os traficantes, apreender drogas e armas. Ele ainda revelou, com reservas, que vai verificar a informação de um morador de que traficantes estariam escondendo armas nas dunas.
O diretor da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais) Adriano Krul Bine, braço direito da Polícia Civil, não quis falar sobre as facções para não glamourizar crime organizado, mas afirmou que há várias frentes de investigação no Estado.