
Agentes da Polícia Federal brasileira, em parceria com forças internacionais, desmantelaram um esquema de espiões russos na América Latina, em uma ação denominada Operação Leste.
Segundo uma investigação publicada pelo jornal The New York Times na quarta-feira (21), espiões russos utilizaram o Brasil durante anos como plataforma para construir identidades falsas, visando se infiltrar em outras nações.
Um dos casos mais relevantes foi detalhado pelo jornalista Hugo Alconada Mon no livro-reportagem Topos. Segundo o autor, o casal Artem Viktorovič Dulcev e Ana Valerevna Dulceva se ava por turistas argentinos e circulava por pontos turísticos no Brasil.
Por meio de contatos com trabalhadores da reserva de Vaca Muerta, importante campo de gás e petróleo de xisto localizado na Patagônia argentina, os espiões enviavam informações confidenciais para a Rússia.
Ambos foram descritos como dois dos espiões mais relevantes da Rússia desde o fim da Guerra Fria e viveram na Argentina entre 2012 e 2022, até serem descobertos.
Casal de espiões russos fez turismo no Brasil como disfarce antes de ser descoberto 4bh3q
Assim como outros espiões, o casal utilizava o turismo no Brasil como fachada para despistar as autoridades. Em 2022, foram presos na Eslovênia e, após mais de um ano e meio detidos, retornaram à Rússia, onde foram recebidos como heróis pelo presidente Vladimir Putin.

Segundo o autor, Artem Viktorovič Dulcev usou duas identidades diferentes durante as estadias no Brasil. Em 2009, apresentou-se como Martin Hausmaninger, visitando o Rio de Janeiro e as Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu. Já entre 2012 e 2018, voltou ao país como Ludwig Gisch, em visitas frequentes.
Essas viagens faziam parte da estratégia de construir um perfil convincente de turista recorrente, segundo o livro. O casal chegou a cogitar morar no Rio de Janeiro, mas optou por se fixar em Buenos Aires, na Argentina.
Na capital argentina, tiveram dois filhos, Sofia e Daniel, o que facilitou o contato com pais de colegas de escola que trabalhavam em Vaca Muerta. No bairro de Belgrano, onde estudavam as crianças, criaram laços com pessoas ligadas a empresas de petróleo, gás e insumos.
O casal também circulava com frequência pela União Europeia, onde demonstravam interesse em temas relacionados à energia.

Hugo Alconada Mon afirma que há espiões russos espalhados por toda a América Latina. Embora os casos mais documentados sejam no Brasil e na Argentina, há indícios da presença de agentes em países como Uruguai, Chile, Colômbia, Peru, México, Cuba e Nicarágua.