O diplomata Fernando José Caldeira Bastos Neto, que cursou Direito na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), esteve à frente da missão que resgatou 32 brasileiros que estavam na Faixa de Gaza, em meio ao conflito com Israel.

Fernando contou à Agecom da UFSC (Agência de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina) que, antes da guerra entre Israel e Hamas, ele já havia ado por desafios no Oriente Médio.
Dentre os mais marcantes, lembrou de quando estava no Egito e foi encarregado de tirar da prisão uma criança de apenas três anos, cuja mãe havia sido presa quando estava grávida, por tráfico de drogas.
Em outra ocasião, teve que negociar a rescisão de contrato de dois jogadores de futebol, de 16 e 18 anos, que haviam sido abandonados pelo técnico de um time da segunda divisão do Egito.
O que Fernando não imaginava eram os maiores desafios que viriam nos anos seguintes.
Resgate aos brasileiros em Gaza f5d31
Durante 20 dias, uma comitiva de cinco pessoas, comandada por Fernando, seguiu do Cairo até Ismália, no Canal de Suez, para verificar se os nomes dos brasileiros estavam na lista de estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza.
“Ficávamos esperando toda a noite, porque as listas só eram divulgadas em torno das 2h da manhã”, contou Fernando à Agecom da UFSC.
Em 9 de novembro, após negociações entre os países, o Brasil finalmente constava na lista.
Neste momento, o grupo percorreu mais 200 km até Alarixe, uma cidade hostil ao norte da Península do Sinai. Foram cerca de sete horas de percurso, incluindo paradas em mais de 13 checkpoints.
O hotel já estava reservado, pois não sabiam quando a fronteira abriria e quanto tempo precisariam ficar por lá.
“A fronteira é toda murada, uma cena distópica de ficção científica. No primeiro dia, ficamos esperando o dia inteiro, sem nada para comer e beber”, detalhou o diplomata na entrevista à UFSC.
“Depois de toda essa espera, não abriram a fronteira. Voltamos então para o hotel em Alarixe, onde seguimos esperando e ouvindo as notícias. A impressão que dava era de que não ia abrir por um bom tempo”, continua Fernando, em relato.
Neste intervalo, Fernando manteve contato com os diplomatas de Ramala e com os brasileiros que seriam resgatados.
“Durante essa espera, conversávamos com os brasileiros, recebíamos áudios e vídeos deles. Alguns eram bem difíceis de ouvir, pois dava para ouvir o barulho de aviões ando, de bombas caindo lá perto”, detalhou.
Após mais um dia inteiro de espera, em uma cidade isolada e sem nenhuma infraestrutura, a fronteira enfim abriu.

Fronteiras foram abertas t562o
“Abriu de maneira meio surpreendente. Abriu muito cedo, antes do horário usual das ambulâncias arem. Mas logo conseguimos ver os brasileiros lá dentro e deu tudo certo”, explicou o diplomata à UFSC.
Conforme conta Fernando, após a abertura, ainda havia muitas questões para resolver. Jamila Ewaida, uma senhora de 65 anos que acompanhava suas duas netas, não constava na lista.
Mas os diplomatas seguiram na ideia de não deixar ninguém para trás. “Para mim, essas duas meninas são símbolo dessa comunidade de brasileiros. Elas não poderiam ficar sem a avó”, acrescentou Fernando para a Agecom.
Foi preciso providenciar também a documentação daqueles que chegaram sem documentos para apresentar. Quando tudo foi resolvido e todos entraram no Egito, a sensação era de alívio, mas também de cautela.
“A ficha demora a cair, e nunca se sabe o que pode acontecer até chegar ao Brasil, mesmo entendendo que já estavam todos a salvo”, ressaltou o diplomata à Universidade.
No domingo, 12 de novembro, após dias de negociações, muita espera e alarmes falsos, o primeiro-secretário da embaixada no Cairo presenciou os brasileiros deixando a Faixa de Gaza em meio ao conflito com Israel.
“É uma missão cumprida, mas a crise continua e provavelmente vai durar”, contou Fernando José Caldeira Bastos Neto à Agecom, nesta terça-feira (14), seu primeiro dia de descanso em muito tempo.