Aos 24 anos e grávida, a professora e moradora de Canelinha deixou a vida de forma cruel. Vítima de homicídio triplamente qualificado, ela morreu por volta das 16h30 do dia 27 de agosto, após uma emboscada disfarçada de chá de bebê.
A jovem foi golpeada no crânio com um tijolo. Desacordada, morreu em decorrência de uma hemorragia, sobre o chão de barro de uma cerâmica abandonada no bairro Galera, no Vale do Rio Tijucas.
Rozalba Maria Grimme, de 26 anos, confessou o crime. Em depoimento à Polícia Civil na manhã de 28 de agosto, ela afirmou que antes das duas pancadas na cabeça, pediu para a vítima fechar olhos e esperar uma surpresa que havia feito em comemoração ao nascimento da bebê que estava para chegar. O relato da mulher durou cerca dez minutos e ocorreu em uma das quatro salas da delegacia de Tijucas.
– A senhora fez isso por que queria essa criança? – perguntou o delegado Paulo Alexandre Freyesleben e Silva.
– Queria essa criança – respondeu Rozalba, assentindo com a cabeça durante o testemunho em que confessa o crime, no dia 28 de agosto.
Após atingir a grávida diversas vezes com o bloco de barro, Rozalba usou um estilete para abrir o ventre da vítima e forçar o nascimento da bebê de 36 semanas. Ela pegou os documentos da vítima, enrolou a recém-nascida em um pano e a colocou no banco de trás de seu carro. No caminho para a cidade, três homens em um carro viram a mulher coberta de sangue dirigindo em alta velocidade.

Na Estrada Geral de Canelinha, a 1,8 quilômetros de onde cometeu o homicídio e ocultou o corpo da professora com quem, segundo ela, estudou junto cerca de 6 anos antes, Rozalba parou carro e foi abordada pelo trio. Ela disse que havia acabado de ter um parto na rua e estava indo ao hospital. Ao menos durante os último oito meses, a acusada contava a mentira de que também estava grávida.
Às 17h01, uma das pessoas que viu a movimentação na rua tirou uma fotografia em comemoração ao nascimento da criança. A imagem que circulou nas redes sociais mostra a suposta mãe sentada dentro do veículo parado na beira da estrada, com a bebê no colo.
O esposo da acusada, Zulmar Schiestl, de 44 anos, foi chamado e se deslocou até o local de motocicleta. Em comboio, os três veículos seguiram para a residência do casal, localizada no centro do município. Lá, a moto foi guardada e os três homens que ajudaram no suposto parto seguiram viagem para Tijucas. Sozinhos com a bebê, Rozalba e Zulmar percorreram 1,4 quilômetros até a Fundação Hospitalar Municipal de Canelinha.
O casal foi visto entrando na unidade de saúde por volta das 17h. Câmeras de monitoramento flagraram o momento. No hospital, Rozalba entregou o celular e a carteira da vítima ao esposo. Em testemunho ao delegado um dia após o crime, Zulmar disse que não sabia que os objetos eram da vítima e “com a emoção do parto”, não questionou a companheira.
No entanto, a ação é um dos indícios que leva a Polícia Civil e o Ministério Público a acreditarem que o homem sabia do crime e foi conivente.

– A senhora estava grávida recentemente ou não? – questionou o delegado durante o depoimento de Rozalba, em 28 de agosto.
– Sim, eu perdi de três meses. Um aborto espontâneo. – afirmou a acusada.
– Quando a senhora perdeu?
– Quando tinha três meses, no comecinho de janeiro. Eu tava grávida em outubro, no final de outubro.
– Tá, e a senhora perdeu essa criança em janeiro?
– Sim
– E o seu marido nessa situação?
– Ele não sabe, coitado.
Em um mandado de busca e apreensão no mesmo dia do depoimento de Rozalba, a polícia encontrou os pertences da grávida em um gaveta no quarto do casal. Zulmar está preso e também é réu no processo. Ele nega que sabia do crime e disse que acreditava na gravidez da esposa. Eles possuem união estável há cerca de seis anos.
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Versão inicial foi de corte provocado por bombeiro 4m6d19
Ao ser atendida na unidade de saúde, Rozalba entregou a criança a um enfermeiro, que percebeu ferimentos graves no corpo da recém-nascida. Os cortes provocados pela lâmina que mutilaram a barriga da amiga grávida atingiram também a bebê, enquanto ainda estava no ventre da mãe.
A Polícia Militar foi chamada no hospital naquela noite. Em uma versão inicial, Rozalba disse que a bebê se machucou no momento em que o cordão umbilical foi cortado. “Ela justificou dizendo que foi um bombeiro que cortou quando dava a luz, mas não soube explicar os detalhes”, disse o policial Leandro Pedro Rodrigues.
Como os ferimentos eram extensos, a bebê foi encaminhada ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, cerca de 70 quilômetros do município. A mulher foi atendida por três médicos, que constataram que Rozalba não estava em período puerperal – estado corporal que sucede o parto.
“Houve a suspeita de que ela pudesse ter roubado a criança naquele momento”, disse o delegado. Com a desconfiança dos médicos, Rozalba mostrou um pedaço de placenta e disse que pertencia a ela.
Placenta foi retirada do corpo da mãe 18o1j
Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que Rozalba conversava com várias mães e grávidas da região pelas redes sociais. Em uma conversa, o delegado Paulo Alexandre Freyesleben e Silva percebeu algo estranho:
“Ela [Rozalba] questionou essa mulher [outra grávida] sobre o que acontecia depois do parto e sobre a placenta. A mulher disse que saía logo depois do parto. Isso nos leva a crer que ela cortou parte da placenta da vítima e levou consigo na tentativa de forjar [o parto]”, contou o delegado.
Rozalba foi liberada e seguiu para a casa de familiares, no interior de Canelinha. Ela ou a noite com os pais e o irmão mais velho. Em 27 de agosto e na madrugada do dia 28, por duas vezes a acusada republicou em uma rede social um pedido de ajuda para encontrar a vítima, que não havia retornado para a casa naquele dia.

Questionada pelos familiares e amigos, Rozalba disse que encontrou a grávida e a deixou em uma ponte da cidade com uma amiga da vítima chamada ‘Suzana’.
“Ela inventou essa história porque as pessoas começaram a questionar ela sobre a amiga. Aí ela disse que a vítima entrou em um carro preto e não teve mais notícias, que ela precisou ir para o hospital pois estava ganhando o bebê”, afirmou o delegado.
Em um áudio enviado na noite do crime para uma amiga em comum da vítima, Rozalba disse que não sabia do paradeiro da professora e que havia ganhado o bebê na rua. Ouça:
Às 15h48 724w3b
Na tarde do crime, às 15h48, a professora embarcou no carro de Rozalba, um Corsa branco. Uma câmera de monitoramento, no bairro Cobre, mostrou o momento em que as duas se encontram.
No caminho para a cerâmica abandonada, o pai de Rozalba encontrou a filha e a vítima na Estrada Geral. Em depoimento, o homem disse que questionou o destino da dupla e Rozalba teria respondido que estava indo para a casa dos pais. Foi a última vez que a a professora foi vista com vida.
Perto das 16h30, a acusada entrou com o carro dentro da cerâmica abandonada e o assassinato ocorreu.
– Peguei ela, convidei ela para uma festinha surpresa e levei ela na cerâmica. Botei ela de costas, dei com o tijolo na cabeça e a pau também, aí depois eu furei a barriga e peguei o bebê – disse a acusada durante o depoimento.
Oração guiou família da vítima até o local do crime 1q3hm
A polícia já suspeitava que Rozalba estava envolvida no desaparecimento da professora. No entanto, a crônica policial ganhou novos contornos quando, por volta das 10h de 28 de agosto, o esposo da vítima e pai da criança roubada encontrou o corpo na cerâmica abandonada.
Além do esposo, casado há menos de um ano com a professora, os pais da grávida estavam no local. Católica e frequentemente presente nas celebrações da cidade, a família contou aos policiais que um Responso – uma oração Católica de guia, dirigida a Santo Antônio – levou a família até o local do crime. Eles rezaram e a divindade teria mostrado que a vítima estava na cerâmica.
Rozalba recebeu voz de prisão no fim da manhã de 28 de agosto. Ela ou a noite daquela quinta-feira na cela da delegacia junto ao esposo, preso no mesmo dia em Florianópolis enquanto acompanhava a bebê no hospital.
Investigações 5w251f
Até esta quinta-feira (10), a Polícia Civil ouviu 26 pessoas. Ao menos três outras grávidas que foram assediadas por Rozalba nos últimos meses prestaram depoimento e contaram como a acusada interagia nas redes sociais. Dois médicos, um enfermeiro, familiares e amigos dos envolvidos também foram interrogados.
A Polícia Civil indiciou o casal na lavratura do flagrante, no fim do dia 28 de agosto. Em 4 de setembro, o Ministério Público fez a denúncia e a Vara Criminal de Tijucas aceitou o pedido. Rozalba foi transferida para o presídio de Chapecó, enquanto Zulmar está preso e Tijucas.
*A reportagem do nd+ não divulga o nome da vítima e familiares para preservar a identidade da bebê, como preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Contrapontos
Zulmar Schiestl
A defesa do senhor Zulmar, através seu advogado, Dr. Ivan Roberto Martins Junior, tem a dizer que comprovará a sua inocência durante a instrução processual, bem como não medirá esforços até que venha à tona a verdade, qual seja, o fato de que o mesmo não teve nenhum tipo de participação nos crimes dos quais está sendo injustamente acusado.
Rozalba Maria Grime
A acusada solicitou um novo advogado pela Defensoria Pública de Santa Catarina. No andamento do processo, é o juiz que deve nomear a defesa. O Tribunal de Justiça ainda não reou o nome do novo defensor.
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