‘Prédios fantasmas’ assustam estudantes e professores na UFSC; reitoria prevê solução para 2024 116m6u

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Um centro de convivência abandonado, uma obra inacabada que se arrasta por uma década e um prédio que aguarda demolição são espaços que representam o símbolo do descaso com a Universidade Federal

Estudantes feridos por estruturas que se despedaçam durante as aulas. Medo de transitar por ambientes escuros. Espaços abandonados. Lixo e entulho. Essa é a realidade em diversas estruturas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Espaços que serviriam para aprendizado e convívio estão tomados por sujeira e entulho – Foto: reprodução/NDTVEspaços que serviriam para aprendizado e convívio estão tomados por sujeira e entulho – Foto: reprodução/NDTV

Nesse cenário, há três prédios que ilustram o ambiente de descaso com a manutenção do bem público: o centro de convivência, os blocos modulados do antigo Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), que estão interditados para demolição, e um prédio inacabado, que tinha o propósito de abrigar o novo CFM, mas virou uma ‘obra fantasma’.

A falta de manutenção tem vários efeitos: é o desprestígio com um dos espaços acadêmicos mais respeitados no país, é o impacto financeiro que deixa as reformas mais caras, além de riscos para as cerca de 50 mil pessoas que circulam pelo Campus diariamente.

O Centro de Convivência que era um espaço para abrigar atividades de interação da comunidade acadêmica está tomado por sujeira e precisou ser fechado.

O espaço que já teve auditório, restaurante e livraria, entre muitos outros serviços, está há 10 anos parado e sem manutenção.

O espaço recebe constantes denúncias de abandono público. Até a metade de 2023, uma agência dos Correios funcionava no térreo e o portão permanecia aberto, o que possibilitava que estudantes ainda frequentassem a estrutura – mesmo que vazia.

Atualmente não há mais nenhum serviço no local e todas as entradas foram trancadas por grades.

No caso dos blocos modulados, local que abrigava o CFM (Centro de Ciências Físicas e Matemáticas), placas ao longo dos corredores indicam que o local será demolido.

É uma estrutura antiga que também precisava de manutenção, mas o que se vê nos arredores dessa área são entulhos, fios elétricos aparecendo e tubulações depredadas.

Mesmo prestes a iniciar o processo de demolição e apresentando riscos aos estudantes, ainda é uma agem utilizada diariamente.

A conhecida situação precária do CFM provocou a necessidade da construção de um novo prédio. No entanto, a obra que foi iniciada em 2013 está abandonada.

A estrutura teve apenas o esqueleto e tijolos levantados e nunca foi terminado. Atualmente não há tapumes ou cercas delimitando o espaço, que conta com restos dos mais variados tipos de entulhos em seus cinco andares – inclusive dezenas de sacas de cimentos empedrados pelo tempo.

MEDO, RISCOS E INSEGURANÇA

As três estruturas são a expressão grotesca de um cenário de falta de manutenção que se alastra por vários espaços e gera medo entre os estudantes.

Além do receio de circular pelo campus e transitar pelos locais abandonados há o risco de ser atingido durante a aula por estruturas que despencam por falta de conservação.

Em abril, uma estudante do CCE (Centro de Comunicação e Expressão), que pediu para não ser identificada, foi atingida por uma luminária fluorescente enquanto assistia aula.

“Ela foi levada para a emergência médica e sofreu lesões que ainda estão sendo tratadas”, diz o professor Fábio Lopes da Silva, que é diretor do CCE da UFSC. No CTC (Centro Tecnológico) a situação também é crítica.

“Outro dia uma porta despencou na perna de uma aluna de Arquitetura”, diz o professor Edson Roberto de Pieri, que dirige o CTC.

“Filme de terror”: prestes a serem demolidos, Blocos Modulados ainda são principais alternativas de caminho 195i1v

Os Blocos Modulados do antigo CFM são conhecidos como “labirinto” pelos estudantes.

O posicionamento da UFSC sobre a estrutura é que o espaço está “lacrado e com demolição programada”.

Em tese, não há condições de receber nenhum estudante por ali, mas na prática o local ainda está no caminho de muita gente. Carol Girotto, 22, estudante do curso de Química, é uma delas.

“É um prédio que não tem mais aula, mas ele não é um prédio abandonado”, garante ela.

Isso porque, além do fato da Biblioteca Setorial ainda estar localizada lá, e de os Centros Acadêmicos dos cursos do CFM só terem sido transferidos do local na última sexta-feira (15), o “labirinto” é caminho para outros prédios.

“É o único caminho coberto pro EFI (Espaço Físico Integrado), também pro CCB (Centro de Ciências Biológicas), onde o pessoal tem aula, enfim, todo mundo ali do CFM tem que ar pelo labirinto, querendo ou não”, afirma a estudante.

E utilizar esse espaço como agem não é uma experiência agradável ou até mesmo segura. “Não tem como explicar, é horrível, parece um filme de terror”, destaca Carol.

No entanto, o caminho se torna quase obrigatório por ser a única alternativa coberta e mais próxima de outros centros, já que a outra opção seria atravessar um gramado mais longo e com pouca iluminação, o que pode ser ainda mais perigoso.

Em resposta, a UFSC informou que “a universidade dispõe de um serviço de vigilância com uso de motocicletas, que tem reforçado as rondas pelo campus inclusive circulando sobre o eio (corredores) com giroflex aceso.

Além disso, há uma orientação para os estudantes não circularem sozinhos em locais isolados ou pouco iluminados da UFSC, especialmente na saída das aulas do período noturno”.

Sem prédio, alunos do CFM am percalços; UFSC não delimita prazo para construção 3w222y

Dado o cenário precário do prédio que abrigava o Centro de Ciências Físicas e Matemáticas, e a obra do novo prédio que iniciou em 2013 e não foi concluída, os estudantes transitam por diversos pontos do campus para cada aula, fato que é alvo de constante reclamação.

De acordo com a reitoria da UFSC, o projeto para a conclusão das obras no novo prédio está em fase final, mas ainda haverá as etapas de licitação e contratação.

“Não é possível fixar prazos para conclusão, pois há fatores que fogem ao controle da UFSC, como a possibilidade de abandono da obra como aconteceu com a primeira construtora”, ite a universidade.

UFSC assegura que Conviva não leva risco aos estudantes 3i4c68

Localizado em ponto central do Campus, o Centro de Convivência está presente no dia a dia de muitos estudantes.

Ao observar a estrutura, são perceptíveis alguns danos estruturais além do desgaste do tempo, como as paredes que estão “dobradas”.

Ainda assim, os arredores da estrutura estão costumeiramente recebendo grande quantidade de pessoas, seja de agem, no lago ou até na fila do RU (Restaurante Universitário).

Em resposta à reportagem, a comunicação da UFSC assegurou que o prédio “não tem problemas estruturais”, mas ressaltou que o espaço “precisa de uma ampla reforma para ser recolocado em uso”.

Não foi apresentado, no entanto, nenhum laudo técnico sobre a situação do prédio.

Por que estruturas ficaram abandonadas por tanto tempo? 325t37

Em entrevista ao Grupo ND, o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, diz que o orçamento disponível não é suficiente para investir em melhorias na universidade.

“Temos 150 milhões do governo federal e mais 50 milhões de recursos próprios. Mas são valores que já tem destino, como pagamento de bolsas, terceirizados e para manter a universidade funcionando. Não sobra quase nada”, revela.

Ele ressalta ainda que, para o resto deste ano, já está faltando cerca de 30 milhões de reais no orçamento.

“Estamos negociando com a Celesc e com a Casan o pagamento das contas só para o ano que vem”.

Para a Prefeitura Universitária, a diminuição “sistemática” dos recursos orçamentários tem ligação direta com a dificuldade em realizar e finalizar obras.

“Para se ter uma ideia, os recursos de capital (usados para obras e investimentos) do orçamento da UFSC com recursos do Tesouro aram de R$ 56 milhões em 2015 para cerca de 4,5 milhões no Orçamento original de 2023.

Com a suplementação orçamentária da chamada PEC da Transição, aprovada no final de 2022, foram acrescentados cerca de R$ 6,9 milhões a esta rubrica”.

A universidade informa que apenas a conclusão do prédio inacabado do novo CFM tem um valor estimado de R$ 8 milhões – sendo que outros R$ 6 milhões serão necessários para a conclusão de um bloco anexo ao prédio, com 16 salas de aula.

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Apesar das dificuldades financeiras informadas pela universidade, o reitor Irineu de Souza garante reformas e revitalizações nas três estruturas para o ano que vem.

Em relação ao Centro de Convivência, o reitor afirma que vai lançar uma licitação ainda este ano para que as obras de recuperação do prédio comecem no início de 2024.

Quanto aos Blocos Modulados, Irineu de Souza diz que a ideia é executar a demolição até o fim do ano para fazer uma praça.

Já para a construção abandonada, o reitor conta que existe uma verba aprovada para dar sequência à obra no início do ano que vem.

“Até lá, nós vamos colocar tapumes para evitar a ocupação do prédio”, garantiu o reitor.

Mas de onde vem essa verba? Segundo a comunicação da UFSC, a universidade vai usar os recursos do orçamento, de cerca de R$ 11 milhões, e também usará uma parte dos chamados recursos próprios, uma receita obtida pela UFSC com aluguéis e com o ressarcimento institucional de projetos desenvolvidos pela Universidade em parceria com empresas e organizações.