A piloto brasileira Juliana Turchetti, de 45 anos, morreu na quarta-feira (10) durante uma manobra no combate a um incêndio florestal nos Estados Unidos. Ela foi considerada uma heroína por autoridades norte-americanas e brasileiras.

“Alguns nos chamam de heróis. Bem, esse é um título pesado para carregar. Gosto de dizer que somos pessoas comuns fazendo algo extraordinário”, escreveu Juliana em sua última postagem nas redes sociais, poucos dias antes do acidente.
A piloto agrícola brasileira integrava a equipe de combate às chamas na Floresta Nacional de Helena, no Condado de Lewis e Clark, no estado americano de Montana.
Segundo nota do Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola), o acidente aéreo teria acontecido durante a manobra de “scooping” a bordo do Fire Boss. A operação consiste em pousar a aeronave em um lago ou represa para captar água e decolar em seguida.

O xerife do Condado de Lewis e Clark, Leo Button, relatou à imprensa local que o avião da piloto brasileira pareceu ter se chocado com algo, se despedaçou na água e afundou. As causas do acidente ainda serão investigadas para comprovar se houve de fato uma batida.
“Voar e combater incêndios é a combinação ideal de diferentes habilidades, desafios, trabalho em equipe e do entusiasmo de operar em um ambiente em necessidade constante de disciplina, coordenação, coragem, dedicação e desejo de servir”, declarou a brasileira em seu Linkedin.
Conheça a piloto brasileira que morreu como heroína nos EUA 3a514x
Natural de Contagem, em Minas Gerais, Juliana Turchetti sonhava desde pequena em ser piloto. Ela começou como comissária de bordo e ingressou na aviação em 2007.
Em seu perfil nas redes sociais, Juliana se descrevia como uma “construtora de sonhos, perseguidora de desafios e uma batalhadora”.
Juliana contabilizou mais de 6,5 mil horas de voo em sua carreira. Foi instrutora de voo e depois copiloto e piloto em aviões Boeing 727 e 737.

Em 2013, entrou para a aviação agrícola e se tornou a primeira piloto brasileira a voar em lavouras dos Estados Unidos quando se mudou em 2018.
Ela se casou com o também piloto John Coppick e chegou a abrir uma cafeteria temática de aviação em Springfield, estado de Illinois. A Aviatori Coffee House servia aos estadunidense uma combinação dos grãos e do pão de queijo mineiro.
Juliana não conseguiu ficar muito tempo longe dos aviões e logo voltou a voar, dessa vez interessada no combate a incêndios. Em fevereiro deste ano, ela se tornou a primeira piloto brasileira a dirigir o modelo Fire Boss, uma versão do maior avião agrícola do mundo.

Sua primeira operação de combate a queimadas foi no emblemático 4 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos.
“A aviação para mim é a prova mais profunda do quão infinitamente longe a humanidade pode ir. Estamos conectados com o mundo inteiro, obrigada aos homens e mulheres que ousaram sonhar grande e alto!”, disse a mineira nas redes sociais.
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Os governadores Greg Gianforte de Montana, onde ocorreu o acidente, e de Brad Little de Idaho, estado que cedeu o avião ao Serviço Florestal, emitiram uma nota conjunta.
“Nossos primeiros socorristas e bombeiros florestais arriscam suas vidas para responder rapidamente às ameaças e proteger nossas comunidades. É um verdadeiro ato de bravura correr em direção ao fogo. Nós nos juntamos a todos os habitantes de Montana e Idaho em oração pela família e amigos da heroína caída durante este momento trágico”, afirmaram.

O Sindag também lamentou a perda da profissional no combate ao incêndio florestal, considerada um exemplo de “força feminina no setor e da garra e profissionalismo dos pilotos brasileiros”.
“Juliana atuou como uma heroína, o que foi reconhecido inclusive pelas autoridades norte-americanas. E é assim todo o setor aeroagrícola brasileiro vai se lembrar para sempre dela”, destaca a nota de pesar.

A presidente do sindicato, Hoana Almeida Santos, destacou que a morte da piloto brasileira é uma perda irreparável para a aviação agrícola.
“Estamos muito tristes e abalados com a notícia. Juliana representava não somente a determinação e a coragem dos pilotos brasileiros, mas era também um exemplo de profissionalismo, pela linda trajetória. Valorizando o papel das mulheres no setor e sendo fonte de inspiração para muitos”, ressaltou.
Joelize Friedrichs, amiga de Juliana e colega de profissão, se emocionou ao lembrar da piloto. “Ela era uma das grandes”, definiu em depoimento ao Sindag.
“Os feitos dela, as conquistas dela e seus conselhos vão mantê-la viva em nossos corações. É isso, está sendo bem difícil”, contou a amiga.