A principal suspeita com que o Corpo de Bombeiros trabalha para explicar o que provocou a trágica explosão que demoliu um prédio e causou a morte de Helenita Pereira da Silva, de 57 anos, em Jurerê, no Norte da Ilha de Santa Catarina, é de um vazamento de gás no primeiro pavimento da edificação.
Essa hipótese é corroborada pelo relato de Waldirene Silva Bastos, de 64 anos, que sentiu um “inável” cheiro de gás desde às 7h de terça-feira (25), 1h30 antes da explosão.

“Acordei às 7h da manhã já sentindo um cheiro muito forte, inável, de gás. Eu levantei e fui para a cozinha e conferi tudo, mas não era de lá que estava saindo aquele cheiro. Quando já eram 8h, eu estava tomando um chimarrão, e no exato momento que fui servir minha segunda cuia, deu a explosão. Na hora já veio janela, porta de armário, tudo para cima de mim”, conta Waldirene, que estava há uma semana visitando o neto no prédio ao lado.
O Corpo de Bombeiros realiza a perícia para confirmar o que provocou a explosão. Os trabalhos nesta quarta-feira (26) tiveram início às 8h.
“A suspeita é de vazamento de gás, e tudo indica que tenha sido no primeiro pavimento”, afirma o Capitão Ismael Matheus Piva.
Waldirene lamenta a tragédia, ao mesmo tempo que agradece a sorte de ter conseguido sobreviver.
“Veio vidro, janela, tudo para cima de mim, e eu caí no sofá. Logo levantei para tentar socorrer o meu neto, caiu muita coisa em cima dele também, estava enrolado com a coberta. Então eu puxei ele e falei ‘vamos com a vó porque vai desabar tudo isso aqui’. Nós não sabíamos o que ia acontecer, senti muito receio que caísse tudo em cima da gente. Tive ajuda da vizinha e do meu neto e consegui pular e sair do prédio.”
Ela lembra que por conta do forte cheiro que estava sentido, sentiu um certo receio. “Não fui eu porque eu não liguei o gás antes. Se tivesse acendido a luz, ou utilizado o fogão… mas tive sorte de lembrar do cheiro”, revela.
Vídeo mostra o impacto da explosão 1k2e5x
Dário José Magalhães é outro morador do prédio ao lado do que foi demolido na explosão. Nas perdas materiais – que ele ainda nem conseguiu contabilizar – teve o carro completamente destruído.
Ele relata que na hora ficou muito assustado, e que demorou pra ver o que de fato tinha acontecido. Amigo de infância de Dário, o construtor Dielço Campos, de 60 anos, mora em uma casa a cerca de 250m de distância.
Ele conta que já estava acordado no momento da explosão, e estava irrigando a grama da sua casa quando ouviu o barulho. Ao lado da casa de Dielço Campos, mora o eletricista Otávio Sampaio Lopes, que mantém um registro 24h de som e áudio no terreno.
Um vídeo mostra o momento exato da tragédia, e é possível ouvir o som e o impacto da explosão no local. Confira:
“Tremeu tudo, cheguei a pensar que fosse um terremoto na hora, e logo vi uma fumaça muito grande vindo de lá, aí percebi o que tinha acontecido”, revelou Dielço.
Preocupado, ele saiu correndo até o local para ajudar as vítimas. No local onde mora, mesmo a 250 metros de distância do prédio que explodiu, algumas janelas chegaram a quebrar.

Susto, desespero e sorte 5i413u
Tão perto da tragédia, os moradores do imóvel que fica ligado à estrutura que colapsou detalham como foram suas reações no momento da explosão.
“Eu estava dormindo na hora, escutei um barulho do vidro trincado, e pensei que fosse por causa do ar condicionado ou algo do tipo, mas de repente veio a explosão, a porta do meu quarto voou por cima de mim e bateu em outra porta de vidro. Nessa hora eu só me cobri e minha avó veio me chamando para a gente correr porque o prédio podia desmoronar”, diz Alisson Bastos, que vivia no apartamento do meio.
“Quando a gente desceu aí vimos que realmente o prédio do lado tinha caído. Então aguardamos a chegada dos bombeiros e as buscas pela dona Elenita. Foi triste”, conta o cabeleireiro de 25 anos.

Dário Magalhães destaca o susto que levou no momento da explosão, e cita a preocupação com seus animais de estimação.
“Tinha uma saída de ar no quarto, que foi arrancada e veio tudo para o chão. Foi onde caiu meu curiózinho, quebrou a gaiola, foi horrível. Um também tinha um gatinho preto, não sei se foi embora, se está morto…”
Porém, ele ressalta o lucro de não ter tido danos maiores e comemora que está bem. “Pessoal ficou tudo sem-teto, eu perdi meu carro, que é valioso para mim… Mas o que a gente perdeu não vale muito, o que importa é que nós saímos com vida e sem um arranhão. Deus é bom nessa hora”.

Amizade com Helenita 2j5d3a
A vítima fatal da tragédia, Helenita Pereira da Silva, havia se mudado para a nova casa há apenas 15 dias. E dona Waldirene, que estava há uma semana visitando o neto no prédio, logo construiu uma amizade com a vizinha.
Elas se conheceram na última semana, e costumavam conversar no pátio da edificação. “Assim que cheguei aqui já conheci ela e fizemos amizade. No domingo (23), ficamos sentadas aqui na frente e amos umas 4 horas batendo papo.”

Ela relembra com carinho do último contato que teve com Elenita, na noite anterior à tragédia.
“Ela estava arrumando a porta dela, e eu ajudei. Mas estava muito frio, falei ‘dona Elenita, isso não é pra senhora, deixa para depois quando seu namorado estiver aí’, e então eu subi, fui deitar. Ela disse ‘dorme com Deus dona Waldirene’, e eu desejei o mesmo. Jamais ia esperar que fosse acontecer tudo isso.”
Depois de tudo, Waldirene acompanhou aflita às buscas durante o dia todo, até o corpo ter sido encontrado, às 22h30 desta terça.
“Fiquei muito apavorada, ia e voltava dos escombros toda hora. Só depois que tiraram o corpo dela, ensacado, que me conformei, que aí sim não tinha mais o que fazer. Eu ainda tinha esperança que iriam achar ela com vida”, diz.
“Fiquei em choque, a gente faz amizade com as pessoas e não espera esse tipo de coisa. Poderia muito bem ter sido comigo também”, lamenta.
Moradores tentam recuperar seus pertences 5hr5i
Neto de dona Waldirene, Alisson Bastos e não conseguiu recuperar seus documentos e roupas até esta quarta-feira.
“Eles não liberam, ninguém vem auxiliar a gente para pegar, e eu preciso da documentação, das minhas roupas para trabalhar, a gente fica de mãos atadas”, reclama.
“A Defesa Civil prendeu, está tudo fechado, estamos aguardando a liberação para a gente pegar lá as coisas. Desde ontem pela manhã só pude entrar uma vez, junto com a Defesa, para pegar uma sacola, com as coisas principais”, complementa Dário Magalhães.
O prédio é integrado ao que explodiu e foi completamente demolido.
“A Defesa Civil já condenou, não pode habitar nem circular nele. E há ainda uma preocupação porque tem uma parte da estrutura que está apoiando essa edificação, talvez quando for necessário remover parte da estrutura de cá pode danificar ainda mais o prédio. Então isso atrapalha um pouco o trabalho de remoção dos escombros, porque tem de mais cuidado”, explica o Capitão Ismael Piva.

No entanto, ainda não há uma previsão para que os moradores consigam entrar em suas casas e reaver os itens. “Não há previsão, imagino que hoje ainda não seja possível”, diz Piva.
O Capitão do Corpo de Bombeiros informa ainda que uma casa que fica localizada atrás do prédio que explodiu também não poderá mais ser habitada.

“Os prédios vizinhos tiveram danos menores, a casa de trás, que fica muito próxima à edificação, ela também não pode mais ser habitada, porque tem o risco de sofrer com uma eventual queda da edificação integrada. As outras casas vizinhas estão bem”, finaliza Ismael Piva.