Os 20 anos do primeiro título de Gustavo Kuerten em Roland Garros 2b2l3v

No próximo dia 6, completa-se duas décadas da histórica conquista do manezinho em Paris 2x6hm

6 de junho de 1997. 9h em Florianópolis. 14h em Paris. Uma hora e 50 minutos mais tarde, o mundo ganhava um novo ídolo das quadras com Gustavo Kuerten coroando duas incríveis semanas de torneio com o título do Aberto da França de Tênis em Roland Garros. O último oponente, o espanhol Sergi Bruguera, terceiro do ranking mundial à época, acabara de sucumbir em três sets, parciais de 6/3, 6/4 e 6/2.

Gustavo Kuerten beija o troféu após vencer Sergi Bruguera - Otávio Dias De Oliveira/Folhapress/ND
Gustavo Kuerten beija o troféu após vencer Sergi Bruguera – Otávio Dias De Oliveira/Folhapress/ND

Na próxima terça-feira completam-se 20 anos dessa epopeia no tênis brasileiro e mundial. Uma conquista protagonizada por Gustavo Kuerten, ou simplesmente Guga, um legítimo manezinho que se apresentara ao mundo esportivo com sua cabeleira amarrada por uma bandana, a camiseta de listras verticais azuis e amarelas, um jeito meio desengonçado e descontraído, e um backhand de esquerda poderoso.

Na capital sa, todas as atenções na quadra central de Roland Garros, o mais tradicional torneio do mundo no saibro e um dos Grand Slam do Circuito da ATP. Em Floripa, olhares e energia positiva para um filho da terra, um dos protagonistas do dia naquela mesma quadra.

Gustavo Kurten, o nosso Guga, o improvável finalista do Aberto da França de Tênis em 1997 preparava-se para enfrentar o espanhol Sergi Bruguera na decisão do título. Depois de eliminar os dois últimos campeões do torneio – Thomas Muster (95) e Yevgeny Kafelnikov (96) – Guga enfrentava o bicampeão de 93/94, Bruguera.

Seria possível apostar em vitória ou a fantástica campanha do catarinense já era suficiente para comemoração? “Se chegou à final, que seja campeão!”, alguém exclamou.

Para os amigos, imprensa e milhares de anônimos torcedores em Santa Catarina, sim, era o troféu de campeão de Roland Garros que todos queriam ver Guga erguer naquele dia.

E cada um reuniu seus amigos em algum canto da cidade para enviar energia positiva rumo a Paris. Cada um sacou junto com Guga, voleiou e devolveu de paralela a bolinha amarela para o outro lado da quadra.

E ao final da partida cada um era um pouco de Guga, orgulhoso de ser brasileiro, catarinense e, principalmente, manezinho. Poucos poderiam imaginar que muito mais conquistas estariam por vir e muitas manhãs de domingo iriam ar em frente à televisão para torcer, sofrer e comemorar com Guga.

Alex Corretja, o profeta

No documentário produzido pela FFT (Federação sa de Tênis) para comemorar os 20 anos do primeiro título em Roland Garros, Gustavo Kuerten relembra fatos que anos depois ele conseguiu entender como determinantes para tudo dar certo em Paris.

Dois meses instáveis na Europa (“a confiança corrída, jogos instáveis), um treino maluco debaixo de chuva em Hamburgo, na Alemanha (“Sensação que dava era que parecia outro jogador, batendo forte, o Larri batendo bola de um lado e do outro. Marretada e a bola não saía”), a volta ao Brasil para reenergizar, o convívio com a família, o tempo de dar rizada, brincar, o título do Challenger em Curitiba e a viagem para Paris.

“Ganhar duas partidas em Roland Garros seria a glória”, diz, relembrando época de poucos recursos, despesas divididas com o amigo Márcio Carlsson (o técnico, Larry os, era o mesmo para economizar), o mesmo quarto no hotel, próximo a Roland Garros para não perder tempo, e as refeições na pizzaria Vitória.

Fora dos cabeças de chave, Guga dificilmente treinaria na quadra central. Uma oportunidade única veio ao lado do espanhol Álex Corretja. “Era um ambiente mágico, fantástico e ele vinha ganhando todos os torneios. Começamos a jogar uns games, e eu batendo esquerda, direita, paralela, saque, e acertando tudo. 3 a 0, 4 a 1. E eu espantado, constrangido, afinal era um dos favoritos e eu estava ali para ajudar”, relembra.

Na virada de lado, as palavras de Corretja em tom de brincadeira foram proféticas. “Pô, assim não dá, tá acertando tudo, se continuar assim vais ganhar Roland Garros”, recorda Guga. “Hoje tudo tem um significado”, completa.

Amigos relembram a conquista

Perseu Lehmkuhl, 42, Márcio Carlsson, 42, e João Carlos Diniz, 69. Três caras que tiveram o privilégio de conviver com Gustavo Kuerten na época do histórico primeiro título de Rolando Garros.

Amigo de infância de Guga, Perseu jogou tênis até os 17 anos. Em 1997 – ano da primeira das três conquistas do manezinho no saibro parisiense – era coordenador técnico do Lira Tênis Clube. Naquela última semana de maio e início de junho, ele parava as atividades no clube da zona central de Florianópolis para reunir todos em frente à televisão para ver o amigo em quadra. “No começo não tinha muita adesão, mas à medida que o Guga foi ganhando, ou a ser o evento. Na final, reunimos todos os amigos dele que jogavam tênis, fizemos um baita churrasco, até a imprensa veio cobrir”, recordou Perseu, que desde 2002 é coordenador logístico do Instituto Guga Kuerten.

Márcio Carlsson treinou com Guga na Astel na juventude e depois reencontrou o tricampeão de Roland Garros na equipe de Larri os, já no circuito profissional. Os dois viajam juntos para os torneios, dividiam quarto nos hotéis e eram muito amigos. “Nós fomos juntos para Roland Garros. Eu perdi no quali e aqueci ele para o jogo contra o Thomas Muster, que era o rei do saibro, na terceira rodada. Depois fui para o ATP de Bologna, na Itália. Assisti a final no quarto, junto com o paraguaio Ramón Delgado. Me emocionei muito, principalmente pela história da família dele, a perda do pai cedo. Depois, ele foi para Bologna também e quando nos encontramos, nos abraçamos, quietos, não era preciso falar nada”, lembrou Márcio, que é coordenador técnico do Lira e chegou a ser o número 118 no ranking de simples da ATP.

João Carlos Diniz ou simplesmente Diniz foi assessor de imprensa de Gustavo Kuerten entre 1992 e 1997. O publicitário que organizava eventos de tênis tinha bom trânsito com os veículos de comunicação catarinenses e foi chamado pela mãe de Guga, Alice Kuerten, para tentar divulgar os resultados do jovem tenista – oferta que só aceitou com a condição de não cobrar pelo serviço. “Eu comprei um fax para facilitar a comunicação, eles me mandavam fotos, resultados dele em torneios fora do país. A internet ainda era muito insipiente. Eu ia com uma pastinha embaixo do braço nos jornais, nas emissoras, incomodava bastante. Mas quando o Guga chegou em Roland Garros ele era o 66 do mundo, era mais para ganhar experiência em Grand Slam, mas as coisas foram acontecendo até que ele chegou à final. Aí me chamaram para comentar a final em um canal de televisão e tive que me segurar, não pude vibrar muito com os pontos magníficos dele, mas foi emocionante”, contou Diniz, que trabalhou até 2009 organizando eventos de tênis, entre eles o Circuito Besc e a primeira Copa Davis realizada no Costão do Santinho, em 1997, e hoje é aposentado. 

Perseu Lehmkuhl

“Antes do embarque para Roland Garros, o Guga deu uma coletiva de imprensa aqui no Lira. No final, ele até bateu uma bolinha com meu pai e com o Jorge Weckerle [tenista gaúcho que foi hexacampeão brasileiro e campeão sul-americano como veterano] para fazer uma imagens para a imprensa. A gente nunca que iria imaginar que um amigo nosso, um manezinho da Ilha, todo errado, todo descompensado, como a gente fala, pudesse ganhar Roland Garros. Mas o Guga sempre teve aquele algo a mais, desde o juvenil, e a família, a Alice, o Rafael, sempre foram o alicerce dele”

Perseu (à esq.) e Márcio convivem com Guga desde adolescentes - Marco Santiago/ND
Perseu (à esq.) e Márcio convivem com Guga desde adolescentes – Marco Santiago/ND

Márcio Carlsson

“Eu saí do Lira e me mudei para a Astel depois que fui campeão estadual em 1985. Lá, comecei a jogar com o Guga, que, mesmo com um ano a menos que eu, já se destacava bastante. Naquele ano, jogamos dupla em um torneio em Brasília, eu lembro que eu estava bem inseguro porque ele era bem melhor do que eu. Depois, teve um torneio em Curitiba e ali foi quando ficamos realmente próximos, porque foi quando o pai dele morreu. Comecei a dormir alguns finais de semana na casa dele para brincarmos, a viajar juntos para os torneios, um puxava o outro. Tínhamos uma rivalidade saudável”

Diniz divulgou a campanha de Guga desde os primeiros torneios como infanto juvenil - Marco Santiago/ND
Diniz divulgou a campanha de Guga desde os primeiros torneios como infanto juvenil – Marco Santiago/ND

João Carlos Diniz

“Eu nunca cobrei nada pela assessoria de imprensa do Guga porque não era um profissional da área, apesar de ter uma boa relação com os veículos de comunicação de Santa Catarina. Eu fazia pela satisfação. Eu tinha compromisso com o tripé jogadores, patrocinadores e imprensa. Graças às minhas insistentes pautas, hoje, temos imagens do Guga no juvenil. Sempre que ele voltava de viagem, eles me traziam um presente. Eu faço aniversário dia 10 de junho, dois dias depois da conquista de Roland Garros. Então, foi um presente de aniversário antecipado. Em 1997, ele me trouxe uma bolinha de Roland Garros autografada, que até hoje guardo com muito carinho. É histórica”

Relembre a campanha de Gustavo Kuerten em 1997

1ª rodada – Slava Dosedel (Tchecoeslováquia)

Ranking na época: 73º

Melhor ranking: 26º em 10/10/94

Placar: 6/0, 7/5 e 6/4

Tempo de jogo: 95 minutos

2ª rodada – Jonas Bjorkman (Suécia)

Ranking na época: 23º

Melhor ranking: 4º em 03/11/97

Placar: 6/4, 6/2, 4/6 e 7/5

Tempo de jogo: 157 minutos

3ª rodada – Thomas Muster (Áustria)

Ranking na época: 5º

Melhor ranking: 1º em 12/02/96

Placar: 6/7(3), 6/1, 6/3, 3/6 e 6/4

Tempo de jogo: 188 minutos

Oitavas-de-final Andrei Medvedev (Ucrânia)

Ranking na época: 20º

Melhor ranking: 4º em 16/05/94

Placar: 5/7, 6/1, 6/2, 1/6 e 7/5

Tempo de jogo: 165 minutos

Quartas-de-final – Yevgeny Kafelnikov (Rússia)

Ranking na época: 3º

Melhor ranking: 1º em 03/05/99

Placar: 6/2, 5/7, 2/6, 6/0 e 6/4

Tempo de jogo: 150 minutos

Semifinal – Filip Dewulf (Bélgica)

Ranking na época: 122º

Melhor ranking: 39º em 15/09/97

Placar: 6/1, 3/6, 6/1 e 7/6(4)

Tempo de jogo: 134 minutos

Final – Sergi Bruguera (Espanha)

Ranking na época: 19º

Melhor ranking: 3º em 01/08/94

Placar: 6/3, 6/4 e 6/2

Tempo de jogo: 110 minutos

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