Quatro meses de abre e fecha: a BR-280, no trecho da Serra de Corupá, no Norte de Santa Catarina, registrou 18 deslizamentos de novembro de 2022 a março deste ano, segundo levantamento do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

Por conta dos deslizamentos, o DNIT declarou situação de emergência na região. “A declaração ocorreu em 30 de novembro de 2022 e abrange um segmento com extensão de 47,3 quilômetros entre o Km 64,2, em Jaraguá do Sul, e o Km 111,5, em São Bento do Sul”, disse em nota.
Devido às frequentes quedas de barreira, as interdições também são constantes e causam transtornos não apenas aos moradores do trecho, mas também para a economia da região.
“Os setores econômicos são afetados tanto no turismo como na área do transporte, que ficam prejudicados nos serviços, transporte de mercadorias e escoamento de safra”, explica Alice Grosskopf, prefeita de Campo Alegre e presidente da Amunesc (Associação de Municípios do Nordeste de Santa Catarina).
BR-280 teve 18 deslizamentos em quatro meses – Vídeo: Marcelo Thomazelli/NDTV
A situação das estradas catarinenses, aliás, tem sido motivo de preocupação para o setor de transportes. O presidente da Fetrancesc (Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Santa Catarina), Dangor Schneider, afirma que as más condições das rodovias causam um aumento de 35% no custo do setor. “É lamentável o desleixo e o descuido com o patrimônio rodoviário catarinense”, destaca.
Ainda segundo Dangor, o conselho superior da Fetrancesc se reuniu com a CNT (Confederação Nacional dos Transportes) no final de fevereiro, quando foram apresentados números que revelam a precariedade das estradas no Estado.
“De acordo com os dados apresentados pela confederação à Fetrancesc, 85% das estradas catarinenses encontram-se em situação regular, ruim ou péssima”, explica o presidente da Federação.
Quanto às constantes interdições de rodovias, como a BR-280, por conta das chuvas, Dagnor Schneider defende uma reavaliação das áreas de risco. “Os responsáveis precisam reavaliar as áreas de risco para fazer as manutenções preventivas e minimizar a ocorrência destas situações”, completa.
Especialista explica o que ocorre na região da BR-280 2e5w4t
Segundo o engenheiro civil e professor da UFSC, Marcelo Heidemann, a região onde fica a BR-280 é suscetível a ocorrências como as verificadas nos últimos quatro meses. “O que torna este trecho tão suscetível aos deslizamentos é, primeiramente, a grande inclinação das encostas nessa área”, afirma.
Porém, essa característica do terreno não seria, necessariamente, a causa da instabilidade do trecho. “Mudanças de uso do solo ou das condições hidrológicas podem tornar uma encosta mais sujeita a deslizamentos. Como eventos de chuvas intensas têm ocorrido com frequência cada vez maior, as encostas vão se adaptar às novas condições”, explica o engenheiro.

Ainda de acordo com Heidemann, critérios como o histórico de chuva são utilizados para o desenvolvimento de projetos de rodovias a fim de entender o comportamento do solo. “Projetamos baseados no ado. Quando o presente não reflete o que ocorria anteriormente, podemos ter problemas”, afirma.
O engenheiro defende uma revisão dos sistemas de drenagem das áreas suscetíveis a deslizamentos nessas rodovias. “Vamos precisar rever os sistemas de drenagem nas áreas mais críticas destas rodovias para que estes possam atender às exigências que os eventos de chuva mais recentes têm imposto”, explica.
O que diz o DNIT sobre as condições da BR-280 51623w
Segundo o DNIT, após a declaração de emergência, o órgão realizou uma contratação emergencial para serviços imediatos, como escavações, implantação de aterros, regularização de pista, acostamento e talude, construção de galerias, execução de desvios e limpeza de material sobre a pista.
O DNIT, contudo, não respondeu sobre um planejamento no longo prazo para evitar os deslizamentos que se repetem na BR-280. Nesta sexta-feira (17), o trecho segue totalmente interditado após novas quedas de barreira no último domingo (12).